quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

OS MELHORES LUGARES ONDE COMER EM PORTO ALEGRE 2014 (E O QUE COMER NELES)

Exatamente isso, sem frescurinha. Aqui estão os melhores lugares pra se comer no Portinho, e uma sugestão de pedido. Não tem ranking, não tem ordem, só vai. Reclamações na puta que vos pariu.


-The Raven (fanpage deles)


Todas as informações de localização et cetera estão no link acima. Restaurante balaquento de comida internacional que delivers fully. Apelidado de "entrou, transou", a comida é muito sexy e é um lugar ótimo pra um date (sente do lado de fora, dentro pode ser barulhento), e também pra ir com os amigos (sente dentro). Não custa mais de 90 reais por pessoa, o que é bem em conta considerando o fato que sua foda é praticamente 100% garantida.

O que comer: Picanha de Cordeiro com Frutas Vermelhas e purê de batata com chocolate branco, puta que pariu é bom demais. Quem não tá a fim de balaca pede o entrecot Raven. Pra beber, peça uma recomendação de vinho ou manda uma Paulaner weiss (as mina adora). Sobremesa creme brulée ou tiramisu.

-Cia da Picanha (fanpage deles)


No lado negro da Lima e Silva, e bem escondidinho, está um dos melhores restaurantes sem-frescura da cidade. Fico até ressabiado em postar ele aqui porque o Yog, que me mostrou, pediu pra manter sigilo. No cardápio, picanha, filé, frango frito, e massas, e mais polenta, batata frita, e aipim frito. Abarca todas as variações de a la minuta: arroz, salada, feijão, a porra toda. Um pouco caro se comparado aos demais lugares de a la minuta, mas sinceramente vale a pena.

O que comer: Picanha com polenta. Isso mesmo, só a picanha e a polenta. A polenta é de morrer. A picanha não fica atrás. Uma porção de picanha com polenta serve super bem uma pessoa comilona.


-Lancheria do Parque (algo assemelhado à uma fanpage)


Já abordei a Lancheria seis anos atrás, e continua basicamente a mesma coisa. Mas eu realmente queria recomendar um prato que é talvez a melhor coisa pra se comer na cidade inteira.

O que comer: O Filé a Pé, mais dois ovos extras. O filé a pé é um baita dum filezão com batata frita e arroz, e dois ou três ovos, sobre os quais se pede mais dois. É tudo perfeito. Perfeito mesmo. Deve ser comido em duas pessoas. Pra beber, laranja batido. Sério, VÃO LÁ E COMAM O FILÉ A PÉ.

-Sorveteria Bellona (fanpage deles)


Saindo da Lanchera, uma curta caminha digestiva à José Bonifácio e já se encontra a melhor sorveteria da cidade. Tem opções sem leite e sem açucar e sem o caralho a quatro, mas o melhor são os sorvetes normais, e mais alguns sabores alcoólicos.

O que comer: Vai no buffet e não perde o mirtilo com leite.

(Menção honrosa: em se tratando de sorvete, a Gianluca Zaffari não fica atrás, o sorvete é muito bom, e eu recomendo pra quem estiver na zona sul (qualquer sabor com mascarpone, doce de leite, e todos os de fruta são ótimos (a sorveteria é bem pequena e tem menos opções, e a maioria é sazonal)))

-A Virgem Bar (fanpage deles)


A Virgem é um bar muito confortável que esconde em si talvez a melhor cozinha de bar de Porto Alegre. Sorteia qualquer coisa no cardápio e a chance é grande do bagulho ser maravilhoso casa comigo entra na minha casa entra na minha vida. Tem diversas variedades de cachaça, de chopp, de cerveja, e muitos coquetéis, incluindo receitas da casa.

O que comer: Se estiver sozinho ou entre duas pessoas que não comem muito, peça os burritos (simples se sozinho, duplo se em dupla), são bem diferentes dos burritos tradicionais, mas são muito bons. Se estiver entre duas pessoas boas de garfo, ou em mais gente, PELO AMOR DE DEUS PEÇA A PIZZA. É de outro mundo. É a melhor pizza da cidade. Meia estrogonofe, meia toscana. Sério, não percam esses dois sabores, antes de pedir qualquer outro sabor, peçam esses. Pra beber, um chope Viena 450ml (nunca peça o de 600ml, o custo benefício é pior, vai por mim).

terça-feira, 19 de junho de 2012

Hamburgueria Bife - Uma Surpresa Necessária

Página em branco, senti saudades.

Senti saudades, também, de vocês, leitores queridos. Sei que sabem como são as coisas.

Mas bem, vejam vocês: de Porto Alegre é que eu não senti saudades. Os que me conhecem sabem porquê: Porque a sorvo diariamente. E Porto Alegre anda estranha, sei que também sabem. O Tutti vai fechar (ou já fechou), a Cidade Baixa anda complicada, o Bom Fim tá com onda de assaltos (ou vai estar), essas coisas. Por causa desses e diversos outros fatores (que sei que também povoam vossas timelines voluptuosamente), é difícil que nos surpreendamos com nosso portinho, sempre tão etéreo, volátil, incerto.

Mas eu quero dizer, já assim de antemão, que eu me surpreendi foi com essa hamburgueria. Eu sei, acalmai-vos, "não é xis". É hamburguer. Querem saber? Se vão continuar com esse papinho, podem ir lá ler o guia impresso de vocês ou buscar resenhinha de foursquare e kekanto. Talvez lá vocês encontrem o que querem. Eu vou continuar comendo onde quero e escrevendo sobre o que quero. Pronto. Desculpem os leitores que me lêem sorrindo, mas precisava ser dito.

Pois bem, o Bife. Dizer que eu já ouvira falar é começar a história como todas as outras. Digamos que eu tinha uma reunião num sábado, às sete e meia, no Bambus. Isto pra mim, é antes, da janta. No decorrer da reunião, acabei tomando cerveja e, quando vi, eram dez da noite e eu já estava meio leve. O pessoal foi todo indo cumprir com suas obrigações pré-noite e eu me encontrei meio à deriva. Mentira. Eu estava saindo de uma partida de rugby de 3h15min e com a fome de mil leões, e junto comigo estavam 15 brutamontes neandertalescos que representavam mais de 9000 felinos régios na escala fome. Mentira. Eu havia recém acordado de um coma que durara mais ou menos o tempo entre esta e minha última atualização. Eis minha desculpa.

Enfim, dê o leitor o início que quiser a esta história, que eu não estou pra bolar um original o bastante. Mas eu me informara do endereço e horário de funcionamento da chapa, e em instantes me encontrava descendo a Miguel Tostes a pé, sozinho.

O cheiro de bicho morto já ataca a uns 300 metros. É uma maravilha. Sério. Eu pensei comigo mesmo, "não pode ser". O estômago ronca fortíssimo. Passado o impacto, transpus a porta sita bem na esquina da Miguel com o lado baixo da Casemiro de Abreu. Isto eram dez e vinte (eles fecham a cozinha às 23h30, não vá depois disso, não seja um babaca), e ao entrar já fui prontamente recebido e acomodado.

Qualquer que seja o início que o leitor tenha construído em sua cabeça, acrescente a ele o fato de que eu estava com fome. Pedi de cara um pint de Guinness, porque sei que nesta época está todo mundo vendendo a preço de Eisenbahn porque tá sobrando mesmo (falando nisso, essas (Guinness e Eisenbahn) são as torneiras que a casa oferece, mais a jamaicana engarrafada Red Stripe (suponho que deve ter alguma outra mais barata e industrializada, não inquiri)). E perguntei qual era o sanduíche que eu deveria comer sendo debutante. Ele me recomendou dois, o "Cowboy" e o "Do Reino", porque levavam molho de raiz-forte.

Não, "raiz-forte" não quer dizer "wasabi", quer dizer "raiz-forte", "horseradish". Essa não é bem a minha especialidade, mas eu posso afirmar que é ingrediente e nome de um molho freqüente nos sanduíches estadunidenses (http://en.wikipedia.org/wiki/Horseradish e http://www.simplyrecipes.com/recipes/how_to_prepare_horseradish/ (aparentemente, os únicos ingredientes essenciais a um molho horseradish são a própria raiz-forte e vinagre)) (aliás, pode muito bem ser que se trate de uma coisa completamente diferente de tudo o que eu falei, e isso seja eu viajando na maionese).

Escolhi o Cowboy, que além do molho referido leva um hambúrguer de tamanho e peso não-definidos pelo cardápio (havia outros sanduíches que anunciavam 180g, eu francamente não sou balança e não sei se isso é menos ou mais do que o que recebi (ou a mesma coisa)), muçarela de búfala (sic), cogumelos no whisky, e "mix de folhas" (prática tanto recomendável quanto reprovável (reprovável porque não sei o que vai vir, e recomendável porque significa que o chef vai escolher o que a feira apresentar de bom no dia (se o leitor não é capaz de medir os prós e os contras, recomendo a leitura de guias gastronômicos pagos))). Francamente, não consigo me lembrar de nenhum outro ingrediente, porque a cerveja surtira efeito, ou porque minha cabeça ainda estava no sangrento prelo do rugby, ou porque minha memória ainda não se reestabelecera da comatose, ou por qualquer motivo que o leitor quiser. Eu ainda tinha direito a escolher um acompanhamento, as opções eram onion rings (sic), batatas rústicas, ou batatas palito. Se o leitor acha que sabe qual das opções que eu escolhi, que mande já um e-mail com a resposta para thecakeisalie@gmail.com e concorra a 99 iPads IV game-of-the-year edition autografados por Nelson Fittipaldi.

O cardápio se estendia para outras opções de alta relevância, com sanduíches com bacon, ou mais tradicionais com salada e picles, ou com hambúrgueres duplos, ou de porco, ou de salmão, e também vegetarianos (dois: um em que o patty é feito com vegetais (berinjela e não-sei-quê) e um em que é substituído por queijo (não vá pensando que é só um xis com mais queijo não, tem tomate concassê e mais um monte de coisa com nome francês em tudo)). Tem também os chopes que eu falei, e umas opções bem atraentes de Milk Shake, incluindo paçoquinha e limão siciliano (um casal que sentou do meu lado dividiu um de frutas vermelhas que aparentava ser uma loucura). Tem mais um monte de coisa, é um cardápio bem pensado e equilibrado, e tudo parece estar, pelo menos, no caminho da harmonia plena. Que fique bem claro que a variedade dos ingredientes me impede de ficar aqui listando tudo. É importante ressaltar também que tudo parecia, realmente, bem fresco, e que a casa diz preparar quase tudo (ou tudo) lá mesmo (confirmem esse dado vocês). De menos importância era a aparência do menu físico, bem simples, impresso preto-e-branco em folhas de ofício, coisa que tenho certeza que vai melhorar com o tempo (mencionei que eles têm pouco mais de seis meses?). Os hambúrgueres variam dos $18 aos $25 e pouco, com acompanhamento (esse dado eu dou com precisão), os chopes do $6 ao $12, por aí, e os milk shakes um pouco mais de $10, os grandes.

O lugar é bem bonito, e dá pra ver que ainda tem muito o que melhorar (digo isso no bom sentido). As pessoas são bonitas e o clima descolado family-friendly impera, embora não deixe de ser um bom lugar pra beber. Estacionar pode se tornar um problema, visto que enche, mas as ruas do meu Rio Branco são generosas.

Estas considerações todas foram feitas nos quinze minutos entre o momento que pedi e o momento em que minha comida chegou, ponto equivalente a este na narrativa (lembrando ao leitor que não mais está em liberdade de inventar uma história como quiser, a menos que novamente instruído a fazê-lo) O chope já havia chegado mais ou menos uns 3 minutos depois do pedido, e repousou na minha mesa antes de eu poder tomá-lo (não sei exatamente como é a etiqueta Guinness).

O sanduíche tem mais ou menos a mesma dimensão que 4 ou 5 mãos de belas garotas, uma em cima da outra, e é servido assimetricamente, com o pão de cima caído prum lado. Fui instruído a comer com as mãos, embora me houvessem sido dados talheres. O que mais chama a atenção é definitivamente a carne, muito, muito suculenta. O ponto do hambúrguer varia de ao ponto para mal-passado no centro, para mim perfeito. Se eu tivesse que estimar, diria que ali há algo como de treze a vinte por cento de gordura, aparentemente bem controlada (digo isso porque é bem uniforme). É muito saboroso, e diferente de qualquer coisa que se encontre por aqui. Palavras não podem descrever o que para mim é no momento incomparável em Porto Alegre. (Dizer que palavras não podem descrever algo, devo admitir, não é do meu feitio. Considerem isto como a minha surpresa para vocês, visto que esta hamburgueria foi como uma surpresa similar para mim.) Deixo para vocês a completude deste trecho da descrição.

O molho que discuti antes é como uma maionese mais pungente e avinagrada, que com o caráter bem básico do queijo contrapôs bem a riqueza da carne. As folhas, devo admitir, só chamaram mais a atenção nas partes em que saíam para fora e não entravam em contato com os torrenciais sucos da carne, que acabavam, nas partes de dentro, por agir murchando as folhas e privando-as de textura e sabor. Não foram suficientemente expressivas para que eu prestasse muita atenção. Os anéis de cebolas estavam surpreendentemente secos, muito bons, de um marrom dourado característico (este feito já não considero inédito, mas nem por isso vou fazer comparações), quase roubaram a cena.

Uma constatação que posso fazer é que o negócio é muito bom mesmo, e posso dizer que desde que fui lá todos os dias penso em voltar (não é brincadeira).

Fato é que Porto Alegre precisava de um lugar assim: com um bom horário (18h às 23h30, se não me engano), com uma comida fodona e com cervejas apenas suficientes pra harmonizar com tudo, sem muita frescura. Mencionei que eles têm sempre um ou dois hambúrgueres da semana? É isso mesmo.

Se você sente falta do velho Pampa Burger, das hamburguerias de São Paulo, ou sempre quis comer um desses hambúrgueres que passam no Travel & Living Channel, esse é o lugar perfeito pra saciar essa vontade. Se quer fazer uma preza com uma gatinha indo comer em um lugar diferente, é um bom lugar, embora não tenha nada de romântico. Quer um bom lugar pra reunir os amigos, comendo e bebendo bem (claro, gastando um pouco mais)? Ótima pedida. Também serve simplesmente pra matar a fome com um rango garantidamente furioso.

Ah, sabe o que aconteceu quando eu terminei de comer e de tomar meu chope e fiz menção de ir? Me informaram que se eu tomasse outro chope a comida sairia de graça. Vejam: se eu bebesse mais, a comida seria de graça. Os caras estavam tão dispostos a me conquistar que, quando finalmente pensei em pagar a minha conta e encontrei uma fila gigante, trouxeram até mim a maquininha do cartão. Foda demais. (Não se engane o leitor: a não ser que você seja um blogueiro super-influente como eu, não espere a mesma mordomia (embora possa esperar algo muito parecido, sem a parte da bóia de graça).)

A nota é 9,7 porque ainda tem o que melhorar, como eu disse e acho que todo mundo entendeu, e pra não deixar os caras com a bola muito cheia. Mas é isso, estão todos recomendados a ir com a família, com a mina, com a amante, com o couch surfer viciado em doritos, com o dono de seu bar favorito, o que seja. É um ótimo lugar para diversos tipos de encontros sociais envolvendo refeições tanto sérias quanto leves, para happy hours e pra matar uma larica furiosa também. O atendimento é nada menos que perfeito e a comida esta muito, muito perto de lá.

Cansei de escrever, as saudades da página em branco (e de vocês) estão muito bem matadas.

SERVIÇO: Eu já disse onde fica, o horário de funcionamento e o preço. Para mais detalhes, se virem.

P.S. Não falei nos cogumelos, sabem por quê? Nem eu.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Re-Retorno do Pampa Burger

"Puxa-vida, Floco, esse blog não era sobre Xis, e não hambúrguer?" Caro leitor, acima de tudo, este blog é meu, e nele eu escrevo o que eu quiser (ou seja: aguardem (sentados) um post sobre videogames), e considero  que o Pampa Burger ainda mantenha certa relevância, visto que uma de suas lojas foi recentemente envolvida em toda sorte de não-sei-quês relativos à conservação e estado dos produtos lá degluturos. Aparentemente a carne certificada cem-por-cento Angus (não o Young) tinha procedência desconhecida e os condimentos também não eram exatamente marriage material, entre outras coisas. Mas o mais importante: havia bactérias perigosas (essas mesmo) e cocô de bichinhos demais na nossa comida.

Primeiramente, devo esclarecer que aqui não temos problema nenhum em saborear carnes oriundas do topo de chapas de notória imundície, nem em comer de pé em lugares onde sabidamente habitam ratos e baratas. Mas daí a comer comida estragada, é outra coisa. Por mais que eu já tenha comido em bodegas sujismundas desse mundo, nunca passei mal por fazê-lo. E foi o passar mal que ocorreu com quase trezentos (é isso, produção?) portoalegrenses incautos que escolheram o Pampa Burger para as libações de certa época. Eu tive sorte e não fui pego, embora tenha comido lá nesses tempos.

Daí, sacomé, vigilância sanitária resolveu tirar a cabeça da bunda e trabalhar um pouco, e interditou uma das filiais, fez exame nas carninha, etc (lembrem-se, esta informação é completamente duvidosa e sem nenhuma base factual (ou seja: pode ser que isso não tenha acontecido e eu esteja mal-informado (de qualquer maneira, vou fingir que é tudo verdade (façamos assim: consideremos este um TEXTO DE FICÇÃO)))).

E eis que esses dias o tal pico reabriu, e lari vai, lari vem, Pedrenriqster teve a idéia (abaixo o novo acordo otrográfico) de passar lá ontem. Era Domingo de carnaval, aquela vibe meio estranha, tinha muito pouca coisa aberta na cidade, tocamos pra lá. Confesso que o lado bom que pude ver imediatamente daquele bafafá todo era que o lugar supostamente ficaria menos atochado com essa mancha na reputação da casa. Expectation fulifilled.

O cardápio mudou: está maior e mais bonito. Está tudo por mais ou menos quinze pilas. Tem um ou dois sanduíches novos e em muitos lê-se o ingrediente "salsa campeira", suponho que ao invés de maionese. Resolvi pedir um sanduíche cuja existência nunca chamara minha atenção: o Galo Véio.

De baixo pra cima: pão, pasta de gorgonzola, hambúrguer, bacon, "salsa campeira", pão. O pão agora é levemente tostado e é salpicado com gergelim. A pasta de gorgonzola é, bem, uma pasta de gorgonzola. Sinceramente, tenho que fazer uma apologia aqui: foi em parte erro meu em ter pedido este sanduíche, visto que gorgonzola é um ingrediente que, pelo menos em Porto Alegre, é tratado com ignorância e pouca sensibilidade, sendo aplicado em quantidades descabidas e com destaque rude na maioria dos pratos em que aparece (fasfavor né galere, o troço FEDE), e eu, sabendo disso, mesmo assim pedi tal sanduíche.

No geral, é um sanduíche muito, mas muito salgado. O bacon é aparentemente defumado e, como não deve ser frito, apresenta crocância zero e acaba apenas contribuindo com mais sal ao sabor final, que já é defumado tendo em vista o processo de manufatura da carne. A tal salsa campeira é apenas visível, mas não palatável, contribuindo apenas para não deixar o sanduíche seco demais. Acaba sendo seco demais, visto que a pasta de gorgonzola é um pouco empelotada e - sim - muito mal distribuída. De modo geral, é uma combinação infeliz.

A carne - pode chorar - também mudou. Não é mais o hambúrguer alto e suculento feito na brasa que tínhamos pré-interdição. Agora temos algo baixo e plano e - triste - com mais gosto de churrasqueira do que de carne. Pedacinhos de gordura não são mais visíveis ou tácteis. A carne não parece mais carne moída, mas carne processada, carne mecanicamente separada. Não duvido haver aditivos químicos para ajudar na conservação e evitar nova sabatina sanitária. A textura agora ao invés de complexa e suculenta é simplesmente gelatinosa. Beira o nojento, beira o mcnugget. Triste, simplesmente triste.

Os condimentos que antes eram apresentados em altos tubos para self service agora aparecem em sachezinhos, supõe-se que também para conservação, visto que também foram acusados nos exames. A cerveja continua razoavelmente gelada. A heineken é servida em copos para ale, e as demais são servidas em copos para weiss. Estranho.

É incrivelmente triste relatar isso. Era um lugar muito bom, embora eu torcesse muito o nariz para admitir isso. Agora o que eu recomendo é evitar voltar lá e tentar manter a lembrança do lugar que mereceu minha nota nove vírgula dois.

Nota final: 6,0 (se não fosse o ambiente agradável ficaria um pouco mais abaixo)

Pelo menos o risco à saúde deve ter diminuído. Uma grande idéia que começa a esmaecer por problemas de execução. Darei mais uma chance daqui uns 6 meses.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Speed Lanches - Uma aventura pretérita

Escrevi este texto ano passado, para uma revista que acabou não saindo. Como ando recebendo muitos e-mails me cobrando atualizações, tomem essa e parem de encher o meu saco:

O dia da semana não importa, era o final de Outubro em tempos de la niña, aquecimento global, epidemia do crack e veganismo. Caminhávamos eu e Lorean Paulo, mais sofrendo do que apreciando os musculosos fótons que desciam às nossas moleiras e cangotes em ângulos obscenamente retos, fazendo correr e esconder-se em nossas morenas barbas plácidas gotas de suor.

Desculpem-me se não me atenho à ordem natural do ocorrido, mas sinto que é neste ponto que devo esclarecer que isto se deu após uma sessão de sauna holandesa, dentro de um sedã alemão de 15 anos de idade. Talvez como efeito colateral de tal fator, decidimos por caminhar um pouco sob o antiurbano sol portoalegrense ao longo das belas veias desta ilha de calor que convenciono chamar de Cidade Baixa/Centro no início da primavera. A priori, um erro.

Sabíamos o que faríamos, e não sabíamos. Éramos jovens e sadios, achávamos que sabíamos de muita coisa. A verdade nua e crua era que escreveríamos minha primeira crítica impressa de um xis riograndense urbano, na primeira edição de uma nova revista, no começo de uma nova etapa em nossa juventude, que cada vez mais chamava-se juventude, e não outra coisa. Para tal, nossa típica audácia escolheu uma vítima conhecida e respeitada.

Se o leitor não sabe onde fica o Speed Lanches, corre o risco de sair por aí dizendo que esta coluna é uma porcaria. Está encorajado a fazê-lo, caso julgue assim apropriado. Mas, como ato magnânimo, cedo aos menos experimentados a informação de que o referido templo de apreciação estrambólica da moderna tradição (oxímoro?) gaúcha permanece placidamente assentado na Rua Lima e Silva, muito próximo ao desembocar da Rua Sofia Veloso.

Por muito tempo não vi necessidade de executar apreciação crítica a este estabelecimento, visto que trata-se de um lugar com certo renome e, portanto, infalto de minha humilde glosa. Entretanto, muitos leitores de meu blog especializado no assunto pareciam ansiosos em ver o lugar (e seus derivados) espectado pelo meu crivo, e confesso que com o tempo senti-me impelido a me sentir da mesma maneira.

O fato é que para mim a descoberta do Speed Lanches está longe de ser recente, e freqüento o lugar com a regularidade de um pássaro que só pousa no seu ipê de vez em quando, mas o faz há muito tempo. Inclusive cheguei a conhecer o que julgo terem sidos os áureos tempos da lancheria, quando as chapas eram comandadas por uma pequena mulher/mito apelidada Pikachu. Não discorrerei sobre visitas passadas neste parco espaço (não temo a página em branco, mas suas margens), mas considero digno de nota uma anedota em time-lapse: Com o tempo (e conto a história de meu ponto-de-vista de freqüentador casual e não-enxerido), a fama de Pikachu foi crescendo e, suponho, ela começou a trabalhar em horários menos movimentados, o que motivava os clientes a requisitarem ao pobre chapista substituto que fizessem o xis "que nem o da Pikachu [sic]". Realmente, quem viu aquela lenda em ação não esquece: quebrava os ovos, derramava seu conteúdo sobre a chapa e lançava a casca à lixeira com apenas uma das mãos, e sem olhar. Sua habilidade e franca vocação para a façanha eram evidentes e notáveis. Mas divago. Volto ao onde e ao o quê, saio do quem:

Jamais pisei no lugar desprovido da intenção de pedir algo que não o xis-coração (que, de tão lendário, custa (nine and a half brazilian dollars) significantemente mais do que os outros), e não pude escapar de tal instinto, ou muito menos excluir meu irmão exsangüíneo do referido. Dois tapas no balcão (que serve apenas para que não babemos na chapa (que ocupa mais espaço do que os clientes) e como apoio para os cotovelos) e estavam encomendados os dois leviatãs que permaneceriam em nossos organismos por meses a vir.

Observar a chapa e, consequentemente, a manufatura do xis, não deve ser privilégio em um típico xis das bandas de cá e, felizmente, o Speed Lanches não carece nem um pouco de visibilidade fordista. Meu olho clínico para o assunto permitiu-me a apreciação de certas minúcias que deixo para o leitor examinar sem a minha condução epistemológica. Entretanto, uma etapa importante da manufatura que influencia diretamente no resultado final está no derradeiro momento antes de sermos servidos: o chapista (nesta feita, um que tive a oportunidade de avaliar em seu primeiro dia de trabalho) reabre o xis recém prensado para depositar nele porções extras de coração que aguardavam a prensagem sibilando na chapa.

Sim, é um xis prensado com todos os ingredientes obrigatórios (pão, maionese, coração, ovo, alface, tomate, milho, ervilha, queijo) e um diferencial (batata palha). O tomate é cortado em paralelepípedos tridimensionais, e o alface, em tiras. O milho, a ervilha e o queijo não apresentaram-se com personalidade ou quantidade suficientes para merecer algum espaço nestas sinceras palavras. O ovo merece certo destaque, principalmente por posicionar-se amontoado entre duas fartas e caóticas camada de corações de galinha inteiros, fritos na chapa e temperados com uma mistura misteriosa.

O coração não poderia deixar de ser a grande estrela neste xis cuja reputação antecede, e somos brindados com um xis monstruoso e intimidante que assusta à primeira vista, e não parece ser capaz de decepcionar qualquer expectativa possível sobre um xis (é claro, não sou nenhum halterofilista ou leão-de-chácara). A altura insensata da iguaria (um exercício desafiador para as mandíbulas mais incautas) nos proporciona uma experiência sensorial de uma imersão fora do comum. A própria disposição dos bancos e balcões nos leva a mergulhar no xis quase literalmente. Não foram raras as vezes em que os dois então jovens editores-to-be entreolharam-se, quase envergonhados, lambuzados de gordura, timidez, e uma estranha sensação de insignificância. Outro ponto digno de nota, mas que não tange à manufatura stricto sensu, é o lambuzamento do pão pela gordura da chapa (característica essencial e, neste caso, quase inata e fatalmente intrínseca), que deleitou meu amigo e parceiro e fez render boa parte do colóquio. O referido pão lambuzado de gordura, infeliz e inevitalmente, acabou sendo o protagonista das mordidas iniciais (função que deveria ser, ao longo de todo o xis, do coração). O fato é facilmente explicável pela técnica da abertura posterior à prensa (já referida), que acaba por desprover a refeição de integridade e homogeneidade estrutural em detrimento do arregamento no coração (como dito, arregado pa carai), opção que deixarei a cargo do leitor decidir entre WIN ou FAIL. Embora o xis careça de regularidade a longo prazo, a maionese é muito bem distribuída (a má-distribuição da maionese pode ser um dealbreaker, como já discutido ad nauseam (pun intended) no referido blog especializado), e confere ao prato um equilíbrio muito bem-vindo por este dedicado yours truly.

Os pontos que falharam em agradar plenamente este novato e que podem ser salientados são: parca distribuição de papéis com fins higiênicos (seria muita bondade minha chamar aquilo de guardanapo), um atendimento sob medida para quem não está nem aí para o atendimento, e talvez uma certa falta de tempero, assunto, neste caso, delicadíssimo, pois poderia afetar a belíssima falta de equilíbrio presente em mais esta obra de arte.

Minha nota final desta visita foi um redondo 9.0.

A nota do Lorean foi 9.3. Ele disse que foi porque ele não conseguiu comer o xis inteiro, e ele "curte comer inteiro" (eu prefiro quando o xis me ganha).

terça-feira, 15 de março de 2011

Pampa Burger: A Revanche

Se o leitor não leu o relato de minha primeira incorrência ao estabelecimento acima referido, faça-o por meio deste link.

Neste momento primevo ater-me-ei ao xis em si.

Como dito antes, o Pampa Burger ladra certo respeito às tradições gaudérias mesclado a reverência a padrões culinários internacionais (a herança de Hamburgo adotada pelos estadunidenses). Como apontei, o cardápio de sanduíches denuncia certo bias para o lado gringo.

Ao degustar o xis, entretanto, pode-se reverter tal impressão, mesmo que parcialmente.

Antes da apreciação prática, convém detalhar os detalhes estruturais (analisaremos aqui o sanduíche que batiza a casa).

O pão é, dito, d'água. Talvez por confusão lexical, o que conheço por pão d'água é um tanto diferente, sendo mais cascudo e complexo em texturas. O que me foi apresentado assemelhava-se mais a quiçá um cervejinha, sem aquela "bunda" característica da modalidade, ao menos no que tange o portoalegrense.

Este xis em específico apresenta, ao invés da maionese, o chamado "molho especial" (convenhamos, se tirar a maionese do xis for tradição, este blog é inválido). Não posso especificar muito sobre este molho, visto que meu paladar nunca foi treinado para este tipo de especificidades, e perguntar a respeito de qualquer ingrediente para algum garçom, como demonstrado no post anterior, prometia ser incomodante.

O alface é de tipo americano (tradição?), e o tomate é cortado em finas e irregulares fatias, muito bom. O xis também apresenta rodelas de cebola crua, mas aparentemente suavizada, talvez com o velho recurso da imersão em água com açúcar, um grande ponto a favor. Entretanto, o xis não conta com milho e/ou ervilha, opções já tradicionais em nossa metrópole gaudéria.

O hamburger é, sem dúvida, a grande estrela do xis. É feito de supostamente 100% carne de angus, e é assado em uma grelha, sobre brasas de lenha. Sobre ele derrete-se o queijo prato, com certeza 2 ou 3 fatias.

Como pode ver o leitor, o termo "tradição" está sendo discutido aqui, e agora faço uma pausa para esclarecimento: Aparentemente, a lanchonete não se vale da tradição riograndense de xis (como sempre nomeei a iguaria que faz este blog girar), mas sim da tradição estadunidense de hamburger mesclada à tradição gaúcha de churrasco. Portanto, o que comemos aqui não é xis, mas sim hamburger (termo que designa tanto o principal recheio quanto o sanduíche em si).

Feitas as ressalvas, vamos à prática.

A altura do xis é semelhante às outras dimensões, o que denota a influência americana do sanduíche. Este é um fator que influenciará diretamente as etapas finais da degustação. Em termos de tamanho e apresentação, o sanduíche é quase idêntico ao gringo Burger King, apenas um pouco maior, mas também embrulhado em papel.

De baixo pra cima, o xis -- quer dizer, o sanduíche, é pão, molho, hamburger, queijo, alface, tomate, cebola, molho e pão.

A primeira impressão que tive na degustação foi sobre o cheiro da carne, muito bom, típico de parrillas. À primeira mordida, o frescor dos vegetais transparece, talvez a grande vantagem de não se prensar o xis. A cebola traz seu adocicado com leve agressividade reminiscente do sabor original da cebola crua, e o alface fornece crocância, ambos acompanhados pelo toque italiano do tomate. O molho, infelizmente, apresenta sinais de má distribuição, sobrando em alguns pontos do xis e ofuscando todo o resto, além de atrapalhar na contenção da integridade vertical do prato, como veremos a seguir. O sabor do molho lembra muito o de uma maionese caseira, sem firulas, talvez meramente acrescida de caldo de carne.

O hamburger, grande estrela, não decepciona stricto sensu mas, dependendo da hora da visita, pode apresentar problemas no ponto de cozimento (como visto, o atendimento e serviço estáveis não são qualidade do estabelecimento). Seu sabor é muito característico sem agredir os outros sabores ou roubar atenção palatal. Sua textura não pode ser considerada macia, mas isto não deve ser prioridade em sanduíches deste tipo. O queijo é muito mais presente visualmente do que de qualquer outra maneira, mas fornece um pouco de textura agradável, e ameniza os outros sabores, tão característicos.

Mesmo não se tratando de um xis como conhecemos neste blog, é algo muito bom de se comer, apresentado num ambiente muito agradável (que discutirei em post futuro, visto que com certeza devo voltar a comer lá) e, embora com um preço acima do normal (levando-se em conta o fator tamanho e quantidade), não deixa de valer a pena.

O sanduíche Pampa Burger saiu por R$ 11,50, e a heineken por R$ 7,00. Tirem suas próprias conclusões. Os demais detalhes do cardápio, bem como o serviço completo, podem ser facilmente encontrados no site do local.

A nota final, que como todos já sabem corresponde em uma média entre a comida e o local, ficou 9,0

De qualquer maneira, é um lugar que recomendo a todos que queiram gastar um pouquinho mais num lanche caprichado, que embora não corresponda a nenhuma tradição, tem uma temática interessante e é de alta qualidade, embora o serviço possa estragar a experiência.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Pampa Burger

Sei que faz tempo que não posto. Eu estava meramente esperando a inspiração bater. Pois o fato é que nesta madrugada de sábado para domingo, mesmo tendo comido uma infinidade de xises entre a última postagem e essa, é que me veio a vontade de expressar minha opinião sobre certo estabelecimento.

Em minhas perambulações quotidianas, muito fui abordado por leitores deste humilde blog, e tenho que admitir que muitos deles exigiram a presença deste tal pampa burger neste tacanho website.

Pois na noite que acaba de transcorrer, como de costume, eu e minha namorada (uma nova, a qual hei de referir-me como polenta, correndo o risco de facilitar a identificação desta para as antigas namoradas), fomos, primeiramente, ao meu pub favorito, o BAMBU'S (Independência esquina com Barros Cassal) e, depois daí, à minha casa noturna favorita, o LAIKA (Venâncio Aires, 59), acompanhados de meu grande amigo Marcelo (baterista da Reverso Revolver, Casablanca e tantas outras).

Esse Pampa Burger queda adjacente ao Laika Club, cujo endereço já forneci, tornando desnecessárias quaisquer outras minúcias sobre sua localização.

Tenho que admitir, novamente, que minhas espectativas eram altas quanto a este lugar, que prometia ser uma boa mescla entre a cultura gaudéria (a face pampa) e a anglo-saxã (a face burger).

O fato é que o cardápio mostrou ser meramente uma cópia do cardápio mcdonaldesco: dois hambúrgeres carne e queijo, um com cheddar e cebola ao molho shoyu, um com dois hambúrgeres, um com bacon), com a exceção de alguns outros xises estrelando gorgonzola, provolone e/ou chimichurri (o único elemento realmente gaudério de todos). Os prços flutuam entre 8 e 15 reais.

Sentamo-nos e prosseguimos ao pedido, no qual nosso amigo Marcelo optou pelo Cheddar McMelt (carne, cheddar derretido e cebola ao shoyu (soletrado incorretamente no menu), se alguém apontar o aspecto gaudério nisso ganha uma heineken), a Polenta escolheu o "La Plata" (carne, provolone, chimichurri (este xis foi o único que apresentava este ingrediente), alface e tomate no Pão D'água (em todos os xis se lia pão d'água, o que vi foi pão massinha)), e eu escolhi o tal La Plata com bacon (que também só aparecia em uma das opções, e quando o garçom foi inquirido sobre a possibilidade de pôr-se bacon no xis, foi altamente relutante e não me deu resposta). Pedimos ainda uma porção grande de aipim frito (cuja alternativa era a batata frita) e uma cerveja original.

Note o leitor que já eram quatro horas da manhã. Mas mesmo considerando o horário, não se pode perdoar o fato de que O MEU XIS NÃO VEIO E NEM FOI REGISTRADO NA COMANDA, E O AIPIM FOI REGISTRADO E NÃO VEIO.

Assim sendo, não fui atendido nem longe da maneira correta, e saí de lá passando fome (me recusei a aceitar mordidas dos meus convivas, visto que sou crítico de xis e tenho que agir imparcialmente), de forma que não recomendo pra ninguém este lugar. Convenhamos, que tipo de lugar deixa de atender UM CRÍTICO ESPECIALIZADO?

Não posso relatar o ocorrido sem pensar nos termos DESCASO, FALTA DE ATENÇÃO e TÔ DE CARA PRA CARALHO. Esta foi a primeira vez que isso me aconteceu (pelo menos em estabelecimentos de xis) e, não importa a qualidade do bagulho (que me pareceu, no mínimo, enganosa, visto que não havia nada de PAMPA na minha mesa exceto o chimichurri (o qual, ressalto novamente, não degustei)), fui pessimamente atendido e, o mais importante, SAÍ DE LÁ COM MAIS FOME DO QUE ENTREI, MESMO TENDO PAGO VINTE PILAS (pelo xis da mina e a ceva).

Nota final: 0,0 (ZERO VÍRGULA ZERO)

Se algum representante da casa quiser me contatar, basta procurar meu e-mail neste mesmo blog.

Ah, e ainda por cima, NÃO PUDE FUMAR.

sábado, 10 de julho de 2010

Tchê Bauru

Antes de mais nada, eu quero anunciar o resultado final da inédita promoção de semana passada. Vencendo por UM VOTO de diferença, o grande campeão foi o X-Moita, a ser visitado durante a semana, seguido por Gélson (não ficou bem claro qual deles, computei todos os votos para o mesmo) e Van Gogh, que com certeza não deverá ficar de fora por muito tempo.

Vamos ao post de hoje.

Os leitores mais puristas como eu vão torcer o nariz pro nome do lugar. Este é um blog sobre Xis Portoalegrense, e não sobre bauru paulista. Mas acredito que foda-se, é só um nome e nunca vi ninguém comendo bauru lá. Na verdade, é muito raro ver alguém comendo lá. O lugar é mais frequentado por bebedores de cerveja (Polar, estimo, a R$ 4,00). Este fenômeno é claramente explanado pelo cardápio que denuncia os Xis entre R$ 9,00 (Xis-Salada) e R$ 11,50 (Calabresa, Bacon, Coração, etc.), preço, no mínimo, bem acima da média.

Ah, o serviço: O Tchê Bauru fica na esquina da Mariante com a Cabral, qualquer um que ande um pouco pela Goethe sabe onde fica.

Escolhi para ser o Xis mais caro que comi este ano o Xis-Bacon. que é um bom termômetro para se conhecer uma lancheria nova. Veja bom o leitor que o Tchê Bauru para mim não tem nada de novo, exceto que eu nunca comera Xis ali antes.

Estávamos eu e uma corja de vagabundos, que resolveram pedir uma porção grande de batatas fritas com queijo duplo por cima. A porção não era das maiores mas o queijo não era ralado como se vê normalmente, mas uma monstruosidade derretida muito interessante. As batatas eram visivelmente de estilo caseiro e estavam muito boas.

Meu xis demorou cerca de dez minutos para ficar pronto, Aterrisou e não mostrou nenhuma particularidade em sua superfície. Contrariando meu método usual, iniciei por cortar o xis diametralmente, para melhor visualizar seu conteúdo, sacando fotos que, para variar, não tenho saco nem cabo de upar àqui.

A visualização do xis em corte longitudinal comprovou a disposição (de baixo pra cima) pão, ervilha, hamburguer, bacon, milho, ovo, tomate, alface, maionese, pão. Como sabemos, o xis em sua fórmula incluía queijo, que foi indetectável.

As primeiras impressões são de desequilíbrio, o tomate é cortado em pedaços quiçá um pouco grandes demais, e nosso xis sofre do velho problema da má distribuição de maionese. Estes dois fatores foram cruciais para que a degustação inicial revelasse um sabor decepcionantemente adocicado. O dia que um vivente pedir um xis bacon esperando um sabor adocicado, nosso mundo estará acabado.

Avancei em direção ao centro do xis sem maiores dificuldades, começando a perceber paulatinamente os sabores das carnes. O hambúguer foi bem passado, na medida certa, e era muito gostoso, de sotaque caseiro com sal, cebola e pimenta-do-reino. Media cerca de meio centímetro de espessura, e era de bordas irregulares. Muito provável era de fabricação do próprio estabelecimento. Com certeza o ponto alto do xis.

O bacon foi apresentado em pedaços difíceis de nomear. Creio que eu poderia dizer "destroços". Parecia que se havia alimentado um pedaço grande de bacon a um daqueles trituradores de papel. Muito interessante, mas este fator fazia com que, onde havia pouco bacon, os pedaços pequenos demais acabavam por não fazer diferença no sabor final. Felizmente, conforme eu me aproximava do núcleo do xis, a quantidade amontoada de destroços de abdômen suíno aumentava significativamente.

A primeira metade foi devorada sem problemas, e a segunda me rendeu dois terços (o terceiro ficou pro Johnny).

Pontos altos: cerveja barata, bem localizado, bom de estacionar, funcionários simpáticos, pode fumar. Pontos fracos: O preço do xis, má distribuição de maionese, excesso de salada.

Nota final: 7,2

Essa nota, repito, é fazendo uma média entre o xis e o local. Não fosse um lugar tão legal, o xis talvez ficasse abaixo da média 7,0

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Apologia e Promoção

Galerinha da leitura, peço desculpas pela falta de atualização (já são quase seis meses). Mas prometo voltar à ativa.

Como recompensa, estou dando-vos a oportunidade de ESCOLHER qual será meu próximo post. Tem que ser Xis, já que meu último foi a exceção.

Eu sei, a chance de duas pessoas escolherem o mesmo lugar não é das maiores. Mas, se houver empate em votos, darei prioridade à ordem de envio.

Os votos devem ser enviados ao meu e-mail pessoal gfloco@gmail.com e só serão aceitos até 09/07/2010. Corram!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

*Especial Laricando Litoral Norte*

Sabe o que as pessoas do mundo fizeram em Fevereiro? Algumas pagaram uma nota pra sofrer fisicamente em alguma avenida vestidas com fantasias desconfortáveis, algumas pagaram uma nota para poder entrar em algum lugar e tentar transar com algum desconhecido, algumas pagaram uma nota pra tomar whisky brasileiro com energético durante uma semana e ver seu tico murchar, algumas gastaram uma nota organizando a quebra do recorde de "mais pessoas vestidas de Star Trek ao mesmo tempo" (em pleno dia dos namorados americano), e outras gastaram uma nota na locadora e na loja de conveniências.


Para o meu Fevereiro, meu segundo mês livre, optei por atividades muito mais variadas e, logicamente, frutíferas. Portanto, está aqui implícito que, ao passo que não atualizei este blog, ocupei meu tempo com o crescimento pessoal: trabalho duro, leitura, beberragem e, é claro, autoflagelação gastronômica através do excesso.


Minhas atividades de autoconhecimento e reflexão, contudo, embora dependessem muito do nível periguetístico portoalegrense, não se limitaram ao hedonismo anti-zen que propus no parágrafo anterior. Tanto que minha busca pelo Nirvana moderno não pôde limitar-se ao portinho.


No Domingo de carnaval deixei minha amada Porto Alegre, onde nasci, cresci, e hei de morrer (não sem antes morar na Jamaica ou coisa assim).


Ao aterrizar no Litoral Norte Sul-riograndense, meu estômago, obviamente, anseava por algo. Eu tinha uma sensação que todos os leitores que não forem eu mesmo relendo meus posts não têm como saber como é. Ao passar pelo famoso churrasquinho de Capão da Canoa ("como assim, 'famoso churrasquinho'? Capão tem mil churrasquinhos!" Calma, caro leitor, este ao qual me refiro é o na esquina da Paraguassú com a nãoseiqual, a rua da BRESOLIT e do MILLENIUM e do parque de diversões menos itinerante do mundo), achei que ali estivesse a solução. CONTUDO, meu cérebro indicou-me que não.


Capão da Canoa é uma cidade bastante efervescente no mês de Fevereiro. Entretanto, não há tantos lugares para os barbudos alternas. Por sorte, radicava-me no extremo Sul de Xan-Gri-Lá, um pago bem mais calmo e propício ao conforto.


O leitor agora pode estar reclamando que o Blog se chama "Laricando Porto Alegre" e que trata de Junk-Food e Porto Alegre, e que até agora não temos nenhum dos dois. Pois metade dessa insatisfação se tornará gozo neste próximo parágrafo...


...porque quando me sentei para começar a leitura, saboreando um Johnny Walker com Red Horse (pelos quais paguei baratíssimo), subitamente tive uma epifania, eu sabia do que precisava. Como eu fora sem meu leal fuscão, peguei o dindinho e rumei a Atlântida, mais precisamente ao centrinho, mais precisamente ao






Krep Do Kbça



Sou suspeito para falar deste estabelecimento. Como minha família teve, por muito tempo, uma casa em Atlântida, acabei freqüentando muito o chamado "centrinho" (Avenida Central, duas quadras da praia). E é no centrinho que, há onze anos, estabeleceu-se o Cabeça e seu estande de crepes suíços.


Para os direction-freaks, o Cabeça fica do lado da praça, quase diretamente à frente do Shopping de Carnes Manduca (adoro este nome), naquela parte do centrinho onde vemos vários quiosques padronizados, sendo o da extrema esquerda o Crepes Maquiné (que agora também vende tapioca e é o maior rival do Cabeça (não por qualidade, mas por (falta de) simpatia mesmo)), e o da extrema direita um quiosque que tem por característica variar de ano a ano, sendo que o mais duradouro ali foi uma venda de bijuterias e roupas femininas semi-hippie. O cabeça é o terceiro, da direita para a esquerda.


Sou cliente assíduo do Cabeça desde sua abertura, há onze anos. Nos últimos anos, após a venda de nossa casa de praia, passei a freqüentá-lo menos (nota: o Cabeça só abre na temporada de verão, e normalmente não abre na Páscoa). De uns sete anos pra cá, o Cabeça sempre faz questão de levantar um boato que abrirá em Porto Alegre, e sempre descobrimos nada sobre isso.


O Cabeça atende ele mesmo ou sua digníssima esposa, Sandra (que por mim é chamada Dona Cabeça, invariavelmente), e o simpático quiosque fica aberto a partir de mais ou menos 18h até de manhã. O cardápio não foge do tradicional de qualquer crepe gaúcho: entre as carnes, as mais populares são o bacon, o frango desfiado, o coração, o estrogonofe, a calabresa; e entre os vegetais normalmente aparecem o milho, o palmito, o alho e óleo. Os queijos são praticamente invariáveis: mussarela, catupiry, cheddar e uma mistura de quatro queijos (que na verdade é um queijo só - sabor quatro queijos). Vale notar aqui que o Cabeça dispõe de uma variedade de chocolates significantemente maior do que a média. PORÉM, meus anos de experiência em crepes do cabeça, além de me motivarem a, como homenagem, fazer aqui meu primeiro post Não-Xis, me renderam a honra de adicionar uma importante variante sigularíssima ao cardápio do Cabeça: o crepe do Floco.


Não se engane, leitor: o Cabeça não dispõe de um cardápio em papel, e mesmo se de um dispusesse, o crepe do Floco não figuraria entre suas opções. O crepe do Floco é semi-secreto, só quem sabe que ele existe pode chegar e pedí-lo. É claro, meus leitores todos agora o sabem, e peço que isso não seja motivo para aproveitar-se, de má índole, desta informação. Peçam o crepe do Floco com parcimônia, e não estranhem se forem interrogados sobre este que vos escreve, ou mesmo se receberem toneladas de informação gratuita sobre mim. Talvez até devam pagar mais caro, o que não é de reclamar-se, visto que o crepe do Floco é infinitamente superior a qualquer crepe do mundo, como veremos a seguir.


O Cabeça dispõe de quatro máquinas de crepe, cada uma capaz de fritar seis "cápsulas". Os crepes são categorizados no sentido de quantas cápsulas seus recheios ocupam: o simples, de uma cápsula, custa R$ 4,00, o duplo, R$ 5,00 e o triplo, único que deve ser pedido pelos leitores deste blog, is going to set you back seven brazilian dollars.


Se o leitor não está familiarizado com o crepe suíço, pode procurar no google. Entretanto, o que se vê no Google não é fiel ao crepe praticado aqui na baixada do Manduca. Mesmo em um crepe simples, onde o recheio ocupa somente uma cápsula, a massa espalha-se por, pelo menos, as duas cápsulas adjacentes, de maneira que qualquer crepe acaba ocupando uma máquina inteira, independentemente do seu tamanho.


Falando em massa, convém advertí-los, a massa do crepe do Cabeça é mais um diferencial em relação aos inúmeros crepes do nosso litoral: ela não contém sal e nem gordura. É claro, em um blog como este, podemos considerar tal característica como falta gravíssima, não fosse o resultado deliciosamente fofo que se forma: a massa se assemelha muito a um pão ou bolo, e não a uma panqueca, como os demais. Isto faz muita diferença.

"COMO ASIM N~ TEM GORDURA???:::" perguntará [sic] o leitor usual. Calma, respondo. O crepe do Floco é capaz de ultrapassar as barreiras das á-eme, éfe-eme e dos elevador. O recheio inconfundível que gloriosamente preenche esta iguaria singular da culinária gaúcha contemporânea é o que contribui para dar a este crepe o título glorioso de MELHOR CREPE DO MUNDO.

"TA FALA DUMA VES!!1" Ok, ok.

Todos os leitores sabem que os quiosques de crepe em geral permitem combinações de até três sabores, às vezes quatro, o que permite ao cliente, por exemplo, pedir "bacon e queijo nas pontas, chocolate branco e queijo no meio", ou "coração, cheddar e queijo". Saberão os leitores que comigo mantém relações pessoais, também, que o crepe do floco obviamente não toma conhecimento destes grilhões do comércio varejista, consistindo de mussarela, catupiry, cheddar, quatro queijos (o molho antes referido), calabresa, pimenta vermelha, queijo parmesão e orégano.

Creio que agora esteja claro o motivo de tanto alarde.

Vamos ao procedimento de nosso mestre, Cabeça, na feição de mais esta nossa aventura gastronômica.

A máquina de crepes (link com imagem no começo do post, caso alguém comece a ler meus posts no meio) está bem quente desde as 18h, e eu chego mais ou menos pelas 22h30. Dito isto, nosso mestre pincela com um misto inacreditável de gentileza e violência montantes de margarina na superfície escaldante de metal, moldada perfeitamente para acomodar o recheio. A esta altura já estão impregnados na chapa da máquina pedacinhos negros de comida que ficou por ali o dia inteiro, bem como os resquícios lípicos de todos os crepes anteriores. Primeiro, Cabeça deita, em cada cápsula, um paralelepipedo de mais ou menos 0,7cm x 0,7cm x 4cm feito de queijo mussarela. Sobre ele, derrama com sua bisnaga de saco jatos compridos de cerca de 1cm de espessura de cheddar, catupiry e "quatro-queijos" (de agora em diante essa é a denominação correta para a mistura referida), que às vezes chegam a fazer a volta. O resultado é alarmante aos olhos. Ao ver tal espetáculo temos a nítida impressão de que aquele monte de queijo cremoso vai se espalhar por tudo uma vez que a chapa superior descer sobre esta.

Eu e o Cabeça não somos homens de alarmar-se com pouco. Nosso mestre prossegue à aplicação da lingüíça calabresa. Ela é cortada em pequenos paralelepípedos de mais ou menos 0,4 x 0,4 x 1cm, e é da marca Majestade, como o bacon do Cabeça (fonte: straight from the horse's mouth). Creio que não preciso dissertar sobre a quantidade da carne. Sobre isto vai a pimenta vermelha (bastante), o orégano (também conhecido, após as duas da manhã, como "orégo") e, adição de 2010, o queijo parmesão ralado grosso.

Sobre isso o cabeça despeja jatos finos de massa, sem a intenção de cobrir completamente o recheio e também sem deixá-lo plenamente descoberto à queda iminente da chapa superior. O fechamento da máquina é mais uma das habilidades singulares do cabeça. Ao invés de fechá-la do modo convencional, nosso mestre desce-a devagarito, LARGANDO-A a menos de um milímetro de distância do recheio, gerando mínimo impacto e evitando o espalhamento dos ingredientes mais líquidos.

Contudo, não se pode afirmar que NÃO HÁ espalhamento (oxímoro duplo). Os queijos, bem como a massa, por sorte, acabam por escorrer PARA OS LADOS, e não para fora da máquina, gerando duas novas "orelhas", feitas só de queijo e condimentos. O crepe, então, passa muito tempo na máquina, e tem de ser virado (com extrema habilidade) por mais de uma vez, a fim de assegurar integridade estrutural no momento do consumo. Mais de uma vez, nos tempos antigos, ajudei o Cabeça a aperfeiçoar suas técnicas de engenharia, e inclusive mais de uma vez meio que me queimei porque meu crepe se desbeiçou tanto.

Podemos dizer que, se alguém não inventou coisas assim na suíça, o Cabeça talvez seja um pioneiro numa arte ainda por nascer: o crepe monstro. De maneira alguma o crepe que o Cabeça sempre faz pra mim pode se assemelhar ao que se chama por aqui "crepe suíço". A massa é, em praticamente todos os pontos do crepe, permeada por catupiry, cheddar, "quatro-queijos", mussarela, pimenta e orégano, e inclusive, em alguns pontos das orelhas que cercam nosso triplo, podemos encontrar pedaços semi-carbonizados de calabresa. É lindo. É maravilhoso. É apoteótico. É quase inacreditável.

A temperatura, no início, beira o intolerável. O sabor é indescritível. A complexidade é definitivamente uma marca expressiva, bem como a heterogeneidade. Os diferentes queijos se espalham para diferentes áreas, gerando combinações cada vez mais complexas, sempre trespassadas por uma leve ardência da pimenta, e o aroma pizzesco do orégano, inconfundível. As orelhas oferecem ótimo contraponto às cápsulas, oferecendo diversas opções nas mordidas, nas quais podemos variar a proporção carne-queijo conforme a localização no crepe.

Quem nunca comeu um crepe suíço gaúcho talvez não deva começar por aqui. Quem já comeu com certeza tem que passar por esse lugar, pelo menos para rever seu conceito de crepe.

Nota Final: 10,0

Pontos massa: Um crepe monstro; muitos queijos; atendimento espetacular; bebida gelada; ceva latão a R$ 3,50; o melhor crepe do mundo; permitido fumar; bons lugares pra sentar (o centrinho inteiro). Pontos palha: não consigo pensar em nenhum.

Amanhã volto, com a segunda parte do especial Litoral Norte.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Casa do Gélson

Não quero que o leitor se confunda, não estou falando do Gélson Lanches. O fato é que o Gélson tornou-se lenda urbana das chapas da Zona Sul portoalegrense, e por isso deixou sua marca registrada (o que refiro como Xis-Calota) em diversos lugares da Zona Sul. Na verdade, o Gélson Lanches já referido em dois posts anteriores não possui em seu elenco nenhum Gélson. O verdadeiro está neste novo estabelecimento, a Casa do Gélson.


Fica na Otto Niemeyer, bem na frente do Armelin, e o número é 32661300. Se o leitor não sabe onde fica o Armelin da Otto, faça o favor de retornar a Cachoeirinha, que é o seu devido lugar.


Claramente se tratava de uma casa antes de se tornar mais um templo do hedonismo estomacal gaúcho-contemporâneo: na antiga varanda cabem umas 7 ou 8 mesas e o espaço é coberto. Infelizmente os fumantes estão restritos a este ambiente, que felizmente é o mais agradável. Também há um ambiente alternativo ao interior, que é a antiga garagem da casa, muito curioso mas parece um pouco apertado. O ambiente interno propriamente dito tem uma janela imensa que dá a visão para *suspiro* as chapas.


O lugar pode ser facilmente identificado de longe pelo luminoso redondo verde e laranja (cores que permeiam todo o recinto) com os dizeres "Casa do Gélson" e um imenso capacete com chifres. Os chifres, na verdade, são a temática ideológica do estabelecimento, visto que todos os garçons e chapistas usam camisetas estampadas com "Sou (chifres) e sou feliz". Não sei qual é a anedota cérica, mas aparentemente o Gélson, além de fazer um xis foderoso, também curte ser corno.


Quem me acompanhava era meu aluno mais parceria e também o que atira melhor: o Charles. Tivemos que fumar dois cigarros esperando uma mesa na rua liberar (para que assim pudéssemos fumar mais cinco). Quando sentamos, pedimos aquela Bohemia, que estava bem gelada mas não a ponto de me fazer querer tuitar sobre isso (@Floc0, se estiverem curiosos).


A dúvida acerca do cardápio era iminente. Não existem muitas diferenças entre este e o do Gélson Lanches, apenas alguns tweaks muito bem-vindos: existe aqui a opção do Top Gélson de Filé, e também aparecem, em página separada, os petiscos: basicamente porções de batata frita com diferentes carnes acompanhando (calabresa, filé, camarão, bacon, etc.).


Eu estava nas pilhas do Filé ao Molho Branco, para fazer uma comparação precisa entre a Casa do Gélson e o Gélson Lanches, mas o Charles não curte molho branco, e inclusive aproveitou a oportunidade para me perguntar do que era feito o molho branco (Respondi: Leite. Com farinha.). Titubeamos um pouco acerca do Strogonoff, mas acabamos por pedir meio Xis-Filé aos Quatro Queijos. Convém aqui denotar que a Casa do Gélson é significantemente mais cara do que o Gélson Lanches. Os xis mais fodidões saem por R$ 42,00 o inteiro, enquanto no Gelson Lanches, se não me engano, saem por R$ 34,00. A diferença não é tanta, visto que um xis inteiro serve quatro pessoas, pra mais.


Outro ponto interessantíssimo sobre o cardápio é a indicação do peso das coisas: no Strogonoff se lê: 1kg de iscas de carne ao molho de strogonoff, etc. E no Xis-Bacon (curiosamente batizado X-Carne com Bacon) indica-se 500g de carne moída e 500g de Bacon. As críticas ao cardápio permanecem as mesmas: presença de catchup e mostarda padrão dentro do xis (SEMPRE tenho que pedir sem), e talvez eu possa condenar o excesso de coisas desnecessárias (como, por exemplo, cebola e salsa).


Daí veio nosso Xis-Filé aos Quatro Queijos. Tirei uma foto mas estou sem saco pra upar. Tirei-a não pra postar aqui, mas porque o bagulho era monstro mesmo. O xis era de forma triangular, visto que era apenas um quarto de um xis do tamanho aproximado de uma pizza. O que mais chamava a atenção era o recheio que escorreu das bordas: por um lado do xis escorria um creme laranja-avermelhado, por outro escorria um creme mais claro, e por outro saltava um pedaço de ovo frito. Apoteótico é pouco, pena que eu não sou tão fã assim de queijo, como já dito no meu post inicial.


Comecei por extrair uma amostra do xis propriamente dito e mergulhá-la, primeiramente, na parte alaranjada que parecia ser do tomate. Era cheddar. Daqueles que vem em bisnaga e se coloca nos crepes suíços da praia. Não aprovei nem condenei. A parte esbranquiçada parecia ser catupiry, mas o gosto era de provolone com provolone. A parte do ovo frito tinha gosto de xis tradicional, com filé.

O xis tem mais ou menos uns cinco maços de Marlboro de superfície, sem contar com o molho. Ocupa o prato inteiro. O filé vem em iscas de bom tamanho, não é necessário cortá-las, e inclusive pode-se comer pedaços com uma ou duas iscas (esta é uma grande vantagem em comparação direta com o outro xis-calota deste blog, o Gélson Lanches, cujas iscas são grandes demais).

Um dos grandes problemas deste xis, e de quase todos os outros quatro queijos do meu portinho, é a desproporção no uso de variedades muito características e outros queijos mais suaves; neste caso o provolone foi o vilão, roubando a cena sempre que estavam presentes. A má distribuição do molho também é fator: o que eu senti foi que a grande maioria do molho deslocou-se para fora do xis, então um bom método de degustação é cortar um pedaço do xis e mergulhá-lo no molho perimetral, o que não é nada ruim. Outro ponto que alguns podem considerar negativo tange o mesmo assunto da distribuição do queijo: em alguns pontos o sabor era predominantemente provolonístico, em outros de cheddar. É claro que nenhum dos outros dois queijos teve alguma chance de ser encontrado ou reconhecido.

Quanto aos demais ingredientes, os únicos realmente perceptíveis foram justamente os extras: a salsa e a cebola (crua). A salsa fazia presença visual e na textura, e a cebola, é claro, com seu sabor e textura peculiares sempre era reconhecida quando aparecia em algum pedaço. Quero ressaltar que nenhum dos ingredientes superficiais (tomate, cebola, milho, ervilha, cebola e salsa) apareceu estavelmente por todo o xis, mas sim esporadicamente, a ponto de muitas vezes nem ser percebidos (abaixo o infinitivo pessoal).

Com certeza a Casa do Gélson oferece xis muito superiores e mais bem-construídos do que este, portanto devo voltar lá nas próximas semanas e pedir o que me der na telha (Bacon, Strogonoff, ou Filé ao Molho Branco, talvez Calabresa ou Frango Catupiry). No mais, a Casa do Gélson é definitivamente um dos melhores lugares na Zona Sul pra tomar uma gelada curtindo um clima sem frescura e com um pessoal simpátivo (inclusive o próprio Gélson veio dar um lero com a gente, depois da janta, e circulava fazendo comentários semi-humorísticos das situações, tipo "olha as mina encarando meio estrogonofe!"). Pontos massa: Xis gigantesco e claramente intimidante, muitas opções no cardápio (tradicionais e exóticas), ótimo ambiente, estacionamento suficiente na rua. Pontos palha: má distribuição de queijos (devo culpar a mim e ao Charles por ter pedido este xis, e não outro, visto que sou abertamente contra os quatro queijos - vide o primeiro post deste blog), falta estacionamento próprio, fumo restrito à varanda.

Nota final: 8,8

E, caso estejam se perguntando, consegui comer o meu quarto inteiro, e o Charles arregou em dois terços.