quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Casa do Gélson

Não quero que o leitor se confunda, não estou falando do Gélson Lanches. O fato é que o Gélson tornou-se lenda urbana das chapas da Zona Sul portoalegrense, e por isso deixou sua marca registrada (o que refiro como Xis-Calota) em diversos lugares da Zona Sul. Na verdade, o Gélson Lanches já referido em dois posts anteriores não possui em seu elenco nenhum Gélson. O verdadeiro está neste novo estabelecimento, a Casa do Gélson.


Fica na Otto Niemeyer, bem na frente do Armelin, e o número é 32661300. Se o leitor não sabe onde fica o Armelin da Otto, faça o favor de retornar a Cachoeirinha, que é o seu devido lugar.


Claramente se tratava de uma casa antes de se tornar mais um templo do hedonismo estomacal gaúcho-contemporâneo: na antiga varanda cabem umas 7 ou 8 mesas e o espaço é coberto. Infelizmente os fumantes estão restritos a este ambiente, que felizmente é o mais agradável. Também há um ambiente alternativo ao interior, que é a antiga garagem da casa, muito curioso mas parece um pouco apertado. O ambiente interno propriamente dito tem uma janela imensa que dá a visão para *suspiro* as chapas.


O lugar pode ser facilmente identificado de longe pelo luminoso redondo verde e laranja (cores que permeiam todo o recinto) com os dizeres "Casa do Gélson" e um imenso capacete com chifres. Os chifres, na verdade, são a temática ideológica do estabelecimento, visto que todos os garçons e chapistas usam camisetas estampadas com "Sou (chifres) e sou feliz". Não sei qual é a anedota cérica, mas aparentemente o Gélson, além de fazer um xis foderoso, também curte ser corno.


Quem me acompanhava era meu aluno mais parceria e também o que atira melhor: o Charles. Tivemos que fumar dois cigarros esperando uma mesa na rua liberar (para que assim pudéssemos fumar mais cinco). Quando sentamos, pedimos aquela Bohemia, que estava bem gelada mas não a ponto de me fazer querer tuitar sobre isso (@Floc0, se estiverem curiosos).


A dúvida acerca do cardápio era iminente. Não existem muitas diferenças entre este e o do Gélson Lanches, apenas alguns tweaks muito bem-vindos: existe aqui a opção do Top Gélson de Filé, e também aparecem, em página separada, os petiscos: basicamente porções de batata frita com diferentes carnes acompanhando (calabresa, filé, camarão, bacon, etc.).


Eu estava nas pilhas do Filé ao Molho Branco, para fazer uma comparação precisa entre a Casa do Gélson e o Gélson Lanches, mas o Charles não curte molho branco, e inclusive aproveitou a oportunidade para me perguntar do que era feito o molho branco (Respondi: Leite. Com farinha.). Titubeamos um pouco acerca do Strogonoff, mas acabamos por pedir meio Xis-Filé aos Quatro Queijos. Convém aqui denotar que a Casa do Gélson é significantemente mais cara do que o Gélson Lanches. Os xis mais fodidões saem por R$ 42,00 o inteiro, enquanto no Gelson Lanches, se não me engano, saem por R$ 34,00. A diferença não é tanta, visto que um xis inteiro serve quatro pessoas, pra mais.


Outro ponto interessantíssimo sobre o cardápio é a indicação do peso das coisas: no Strogonoff se lê: 1kg de iscas de carne ao molho de strogonoff, etc. E no Xis-Bacon (curiosamente batizado X-Carne com Bacon) indica-se 500g de carne moída e 500g de Bacon. As críticas ao cardápio permanecem as mesmas: presença de catchup e mostarda padrão dentro do xis (SEMPRE tenho que pedir sem), e talvez eu possa condenar o excesso de coisas desnecessárias (como, por exemplo, cebola e salsa).


Daí veio nosso Xis-Filé aos Quatro Queijos. Tirei uma foto mas estou sem saco pra upar. Tirei-a não pra postar aqui, mas porque o bagulho era monstro mesmo. O xis era de forma triangular, visto que era apenas um quarto de um xis do tamanho aproximado de uma pizza. O que mais chamava a atenção era o recheio que escorreu das bordas: por um lado do xis escorria um creme laranja-avermelhado, por outro escorria um creme mais claro, e por outro saltava um pedaço de ovo frito. Apoteótico é pouco, pena que eu não sou tão fã assim de queijo, como já dito no meu post inicial.


Comecei por extrair uma amostra do xis propriamente dito e mergulhá-la, primeiramente, na parte alaranjada que parecia ser do tomate. Era cheddar. Daqueles que vem em bisnaga e se coloca nos crepes suíços da praia. Não aprovei nem condenei. A parte esbranquiçada parecia ser catupiry, mas o gosto era de provolone com provolone. A parte do ovo frito tinha gosto de xis tradicional, com filé.

O xis tem mais ou menos uns cinco maços de Marlboro de superfície, sem contar com o molho. Ocupa o prato inteiro. O filé vem em iscas de bom tamanho, não é necessário cortá-las, e inclusive pode-se comer pedaços com uma ou duas iscas (esta é uma grande vantagem em comparação direta com o outro xis-calota deste blog, o Gélson Lanches, cujas iscas são grandes demais).

Um dos grandes problemas deste xis, e de quase todos os outros quatro queijos do meu portinho, é a desproporção no uso de variedades muito características e outros queijos mais suaves; neste caso o provolone foi o vilão, roubando a cena sempre que estavam presentes. A má distribuição do molho também é fator: o que eu senti foi que a grande maioria do molho deslocou-se para fora do xis, então um bom método de degustação é cortar um pedaço do xis e mergulhá-lo no molho perimetral, o que não é nada ruim. Outro ponto que alguns podem considerar negativo tange o mesmo assunto da distribuição do queijo: em alguns pontos o sabor era predominantemente provolonístico, em outros de cheddar. É claro que nenhum dos outros dois queijos teve alguma chance de ser encontrado ou reconhecido.

Quanto aos demais ingredientes, os únicos realmente perceptíveis foram justamente os extras: a salsa e a cebola (crua). A salsa fazia presença visual e na textura, e a cebola, é claro, com seu sabor e textura peculiares sempre era reconhecida quando aparecia em algum pedaço. Quero ressaltar que nenhum dos ingredientes superficiais (tomate, cebola, milho, ervilha, cebola e salsa) apareceu estavelmente por todo o xis, mas sim esporadicamente, a ponto de muitas vezes nem ser percebidos (abaixo o infinitivo pessoal).

Com certeza a Casa do Gélson oferece xis muito superiores e mais bem-construídos do que este, portanto devo voltar lá nas próximas semanas e pedir o que me der na telha (Bacon, Strogonoff, ou Filé ao Molho Branco, talvez Calabresa ou Frango Catupiry). No mais, a Casa do Gélson é definitivamente um dos melhores lugares na Zona Sul pra tomar uma gelada curtindo um clima sem frescura e com um pessoal simpátivo (inclusive o próprio Gélson veio dar um lero com a gente, depois da janta, e circulava fazendo comentários semi-humorísticos das situações, tipo "olha as mina encarando meio estrogonofe!"). Pontos massa: Xis gigantesco e claramente intimidante, muitas opções no cardápio (tradicionais e exóticas), ótimo ambiente, estacionamento suficiente na rua. Pontos palha: má distribuição de queijos (devo culpar a mim e ao Charles por ter pedido este xis, e não outro, visto que sou abertamente contra os quatro queijos - vide o primeiro post deste blog), falta estacionamento próprio, fumo restrito à varanda.

Nota final: 8,8

E, caso estejam se perguntando, consegui comer o meu quarto inteiro, e o Charles arregou em dois terços.