terça-feira, 19 de junho de 2012

Hamburgueria Bife - Uma Surpresa Necessária

Página em branco, senti saudades.

Senti saudades, também, de vocês, leitores queridos. Sei que sabem como são as coisas.

Mas bem, vejam vocês: de Porto Alegre é que eu não senti saudades. Os que me conhecem sabem porquê: Porque a sorvo diariamente. E Porto Alegre anda estranha, sei que também sabem. O Tutti vai fechar (ou já fechou), a Cidade Baixa anda complicada, o Bom Fim tá com onda de assaltos (ou vai estar), essas coisas. Por causa desses e diversos outros fatores (que sei que também povoam vossas timelines voluptuosamente), é difícil que nos surpreendamos com nosso portinho, sempre tão etéreo, volátil, incerto.

Mas eu quero dizer, já assim de antemão, que eu me surpreendi foi com essa hamburgueria. Eu sei, acalmai-vos, "não é xis". É hamburguer. Querem saber? Se vão continuar com esse papinho, podem ir lá ler o guia impresso de vocês ou buscar resenhinha de foursquare e kekanto. Talvez lá vocês encontrem o que querem. Eu vou continuar comendo onde quero e escrevendo sobre o que quero. Pronto. Desculpem os leitores que me lêem sorrindo, mas precisava ser dito.

Pois bem, o Bife. Dizer que eu já ouvira falar é começar a história como todas as outras. Digamos que eu tinha uma reunião num sábado, às sete e meia, no Bambus. Isto pra mim, é antes, da janta. No decorrer da reunião, acabei tomando cerveja e, quando vi, eram dez da noite e eu já estava meio leve. O pessoal foi todo indo cumprir com suas obrigações pré-noite e eu me encontrei meio à deriva. Mentira. Eu estava saindo de uma partida de rugby de 3h15min e com a fome de mil leões, e junto comigo estavam 15 brutamontes neandertalescos que representavam mais de 9000 felinos régios na escala fome. Mentira. Eu havia recém acordado de um coma que durara mais ou menos o tempo entre esta e minha última atualização. Eis minha desculpa.

Enfim, dê o leitor o início que quiser a esta história, que eu não estou pra bolar um original o bastante. Mas eu me informara do endereço e horário de funcionamento da chapa, e em instantes me encontrava descendo a Miguel Tostes a pé, sozinho.

O cheiro de bicho morto já ataca a uns 300 metros. É uma maravilha. Sério. Eu pensei comigo mesmo, "não pode ser". O estômago ronca fortíssimo. Passado o impacto, transpus a porta sita bem na esquina da Miguel com o lado baixo da Casemiro de Abreu. Isto eram dez e vinte (eles fecham a cozinha às 23h30, não vá depois disso, não seja um babaca), e ao entrar já fui prontamente recebido e acomodado.

Qualquer que seja o início que o leitor tenha construído em sua cabeça, acrescente a ele o fato de que eu estava com fome. Pedi de cara um pint de Guinness, porque sei que nesta época está todo mundo vendendo a preço de Eisenbahn porque tá sobrando mesmo (falando nisso, essas (Guinness e Eisenbahn) são as torneiras que a casa oferece, mais a jamaicana engarrafada Red Stripe (suponho que deve ter alguma outra mais barata e industrializada, não inquiri)). E perguntei qual era o sanduíche que eu deveria comer sendo debutante. Ele me recomendou dois, o "Cowboy" e o "Do Reino", porque levavam molho de raiz-forte.

Não, "raiz-forte" não quer dizer "wasabi", quer dizer "raiz-forte", "horseradish". Essa não é bem a minha especialidade, mas eu posso afirmar que é ingrediente e nome de um molho freqüente nos sanduíches estadunidenses (http://en.wikipedia.org/wiki/Horseradish e http://www.simplyrecipes.com/recipes/how_to_prepare_horseradish/ (aparentemente, os únicos ingredientes essenciais a um molho horseradish são a própria raiz-forte e vinagre)) (aliás, pode muito bem ser que se trate de uma coisa completamente diferente de tudo o que eu falei, e isso seja eu viajando na maionese).

Escolhi o Cowboy, que além do molho referido leva um hambúrguer de tamanho e peso não-definidos pelo cardápio (havia outros sanduíches que anunciavam 180g, eu francamente não sou balança e não sei se isso é menos ou mais do que o que recebi (ou a mesma coisa)), muçarela de búfala (sic), cogumelos no whisky, e "mix de folhas" (prática tanto recomendável quanto reprovável (reprovável porque não sei o que vai vir, e recomendável porque significa que o chef vai escolher o que a feira apresentar de bom no dia (se o leitor não é capaz de medir os prós e os contras, recomendo a leitura de guias gastronômicos pagos))). Francamente, não consigo me lembrar de nenhum outro ingrediente, porque a cerveja surtira efeito, ou porque minha cabeça ainda estava no sangrento prelo do rugby, ou porque minha memória ainda não se reestabelecera da comatose, ou por qualquer motivo que o leitor quiser. Eu ainda tinha direito a escolher um acompanhamento, as opções eram onion rings (sic), batatas rústicas, ou batatas palito. Se o leitor acha que sabe qual das opções que eu escolhi, que mande já um e-mail com a resposta para thecakeisalie@gmail.com e concorra a 99 iPads IV game-of-the-year edition autografados por Nelson Fittipaldi.

O cardápio se estendia para outras opções de alta relevância, com sanduíches com bacon, ou mais tradicionais com salada e picles, ou com hambúrgueres duplos, ou de porco, ou de salmão, e também vegetarianos (dois: um em que o patty é feito com vegetais (berinjela e não-sei-quê) e um em que é substituído por queijo (não vá pensando que é só um xis com mais queijo não, tem tomate concassê e mais um monte de coisa com nome francês em tudo)). Tem também os chopes que eu falei, e umas opções bem atraentes de Milk Shake, incluindo paçoquinha e limão siciliano (um casal que sentou do meu lado dividiu um de frutas vermelhas que aparentava ser uma loucura). Tem mais um monte de coisa, é um cardápio bem pensado e equilibrado, e tudo parece estar, pelo menos, no caminho da harmonia plena. Que fique bem claro que a variedade dos ingredientes me impede de ficar aqui listando tudo. É importante ressaltar também que tudo parecia, realmente, bem fresco, e que a casa diz preparar quase tudo (ou tudo) lá mesmo (confirmem esse dado vocês). De menos importância era a aparência do menu físico, bem simples, impresso preto-e-branco em folhas de ofício, coisa que tenho certeza que vai melhorar com o tempo (mencionei que eles têm pouco mais de seis meses?). Os hambúrgueres variam dos $18 aos $25 e pouco, com acompanhamento (esse dado eu dou com precisão), os chopes do $6 ao $12, por aí, e os milk shakes um pouco mais de $10, os grandes.

O lugar é bem bonito, e dá pra ver que ainda tem muito o que melhorar (digo isso no bom sentido). As pessoas são bonitas e o clima descolado family-friendly impera, embora não deixe de ser um bom lugar pra beber. Estacionar pode se tornar um problema, visto que enche, mas as ruas do meu Rio Branco são generosas.

Estas considerações todas foram feitas nos quinze minutos entre o momento que pedi e o momento em que minha comida chegou, ponto equivalente a este na narrativa (lembrando ao leitor que não mais está em liberdade de inventar uma história como quiser, a menos que novamente instruído a fazê-lo) O chope já havia chegado mais ou menos uns 3 minutos depois do pedido, e repousou na minha mesa antes de eu poder tomá-lo (não sei exatamente como é a etiqueta Guinness).

O sanduíche tem mais ou menos a mesma dimensão que 4 ou 5 mãos de belas garotas, uma em cima da outra, e é servido assimetricamente, com o pão de cima caído prum lado. Fui instruído a comer com as mãos, embora me houvessem sido dados talheres. O que mais chama a atenção é definitivamente a carne, muito, muito suculenta. O ponto do hambúrguer varia de ao ponto para mal-passado no centro, para mim perfeito. Se eu tivesse que estimar, diria que ali há algo como de treze a vinte por cento de gordura, aparentemente bem controlada (digo isso porque é bem uniforme). É muito saboroso, e diferente de qualquer coisa que se encontre por aqui. Palavras não podem descrever o que para mim é no momento incomparável em Porto Alegre. (Dizer que palavras não podem descrever algo, devo admitir, não é do meu feitio. Considerem isto como a minha surpresa para vocês, visto que esta hamburgueria foi como uma surpresa similar para mim.) Deixo para vocês a completude deste trecho da descrição.

O molho que discuti antes é como uma maionese mais pungente e avinagrada, que com o caráter bem básico do queijo contrapôs bem a riqueza da carne. As folhas, devo admitir, só chamaram mais a atenção nas partes em que saíam para fora e não entravam em contato com os torrenciais sucos da carne, que acabavam, nas partes de dentro, por agir murchando as folhas e privando-as de textura e sabor. Não foram suficientemente expressivas para que eu prestasse muita atenção. Os anéis de cebolas estavam surpreendentemente secos, muito bons, de um marrom dourado característico (este feito já não considero inédito, mas nem por isso vou fazer comparações), quase roubaram a cena.

Uma constatação que posso fazer é que o negócio é muito bom mesmo, e posso dizer que desde que fui lá todos os dias penso em voltar (não é brincadeira).

Fato é que Porto Alegre precisava de um lugar assim: com um bom horário (18h às 23h30, se não me engano), com uma comida fodona e com cervejas apenas suficientes pra harmonizar com tudo, sem muita frescura. Mencionei que eles têm sempre um ou dois hambúrgueres da semana? É isso mesmo.

Se você sente falta do velho Pampa Burger, das hamburguerias de São Paulo, ou sempre quis comer um desses hambúrgueres que passam no Travel & Living Channel, esse é o lugar perfeito pra saciar essa vontade. Se quer fazer uma preza com uma gatinha indo comer em um lugar diferente, é um bom lugar, embora não tenha nada de romântico. Quer um bom lugar pra reunir os amigos, comendo e bebendo bem (claro, gastando um pouco mais)? Ótima pedida. Também serve simplesmente pra matar a fome com um rango garantidamente furioso.

Ah, sabe o que aconteceu quando eu terminei de comer e de tomar meu chope e fiz menção de ir? Me informaram que se eu tomasse outro chope a comida sairia de graça. Vejam: se eu bebesse mais, a comida seria de graça. Os caras estavam tão dispostos a me conquistar que, quando finalmente pensei em pagar a minha conta e encontrei uma fila gigante, trouxeram até mim a maquininha do cartão. Foda demais. (Não se engane o leitor: a não ser que você seja um blogueiro super-influente como eu, não espere a mesma mordomia (embora possa esperar algo muito parecido, sem a parte da bóia de graça).)

A nota é 9,7 porque ainda tem o que melhorar, como eu disse e acho que todo mundo entendeu, e pra não deixar os caras com a bola muito cheia. Mas é isso, estão todos recomendados a ir com a família, com a mina, com a amante, com o couch surfer viciado em doritos, com o dono de seu bar favorito, o que seja. É um ótimo lugar para diversos tipos de encontros sociais envolvendo refeições tanto sérias quanto leves, para happy hours e pra matar uma larica furiosa também. O atendimento é nada menos que perfeito e a comida esta muito, muito perto de lá.

Cansei de escrever, as saudades da página em branco (e de vocês) estão muito bem matadas.

SERVIÇO: Eu já disse onde fica, o horário de funcionamento e o preço. Para mais detalhes, se virem.

P.S. Não falei nos cogumelos, sabem por quê? Nem eu.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Re-Retorno do Pampa Burger

"Puxa-vida, Floco, esse blog não era sobre Xis, e não hambúrguer?" Caro leitor, acima de tudo, este blog é meu, e nele eu escrevo o que eu quiser (ou seja: aguardem (sentados) um post sobre videogames), e considero  que o Pampa Burger ainda mantenha certa relevância, visto que uma de suas lojas foi recentemente envolvida em toda sorte de não-sei-quês relativos à conservação e estado dos produtos lá degluturos. Aparentemente a carne certificada cem-por-cento Angus (não o Young) tinha procedência desconhecida e os condimentos também não eram exatamente marriage material, entre outras coisas. Mas o mais importante: havia bactérias perigosas (essas mesmo) e cocô de bichinhos demais na nossa comida.

Primeiramente, devo esclarecer que aqui não temos problema nenhum em saborear carnes oriundas do topo de chapas de notória imundície, nem em comer de pé em lugares onde sabidamente habitam ratos e baratas. Mas daí a comer comida estragada, é outra coisa. Por mais que eu já tenha comido em bodegas sujismundas desse mundo, nunca passei mal por fazê-lo. E foi o passar mal que ocorreu com quase trezentos (é isso, produção?) portoalegrenses incautos que escolheram o Pampa Burger para as libações de certa época. Eu tive sorte e não fui pego, embora tenha comido lá nesses tempos.

Daí, sacomé, vigilância sanitária resolveu tirar a cabeça da bunda e trabalhar um pouco, e interditou uma das filiais, fez exame nas carninha, etc (lembrem-se, esta informação é completamente duvidosa e sem nenhuma base factual (ou seja: pode ser que isso não tenha acontecido e eu esteja mal-informado (de qualquer maneira, vou fingir que é tudo verdade (façamos assim: consideremos este um TEXTO DE FICÇÃO)))).

E eis que esses dias o tal pico reabriu, e lari vai, lari vem, Pedrenriqster teve a idéia (abaixo o novo acordo otrográfico) de passar lá ontem. Era Domingo de carnaval, aquela vibe meio estranha, tinha muito pouca coisa aberta na cidade, tocamos pra lá. Confesso que o lado bom que pude ver imediatamente daquele bafafá todo era que o lugar supostamente ficaria menos atochado com essa mancha na reputação da casa. Expectation fulifilled.

O cardápio mudou: está maior e mais bonito. Está tudo por mais ou menos quinze pilas. Tem um ou dois sanduíches novos e em muitos lê-se o ingrediente "salsa campeira", suponho que ao invés de maionese. Resolvi pedir um sanduíche cuja existência nunca chamara minha atenção: o Galo Véio.

De baixo pra cima: pão, pasta de gorgonzola, hambúrguer, bacon, "salsa campeira", pão. O pão agora é levemente tostado e é salpicado com gergelim. A pasta de gorgonzola é, bem, uma pasta de gorgonzola. Sinceramente, tenho que fazer uma apologia aqui: foi em parte erro meu em ter pedido este sanduíche, visto que gorgonzola é um ingrediente que, pelo menos em Porto Alegre, é tratado com ignorância e pouca sensibilidade, sendo aplicado em quantidades descabidas e com destaque rude na maioria dos pratos em que aparece (fasfavor né galere, o troço FEDE), e eu, sabendo disso, mesmo assim pedi tal sanduíche.

No geral, é um sanduíche muito, mas muito salgado. O bacon é aparentemente defumado e, como não deve ser frito, apresenta crocância zero e acaba apenas contribuindo com mais sal ao sabor final, que já é defumado tendo em vista o processo de manufatura da carne. A tal salsa campeira é apenas visível, mas não palatável, contribuindo apenas para não deixar o sanduíche seco demais. Acaba sendo seco demais, visto que a pasta de gorgonzola é um pouco empelotada e - sim - muito mal distribuída. De modo geral, é uma combinação infeliz.

A carne - pode chorar - também mudou. Não é mais o hambúrguer alto e suculento feito na brasa que tínhamos pré-interdição. Agora temos algo baixo e plano e - triste - com mais gosto de churrasqueira do que de carne. Pedacinhos de gordura não são mais visíveis ou tácteis. A carne não parece mais carne moída, mas carne processada, carne mecanicamente separada. Não duvido haver aditivos químicos para ajudar na conservação e evitar nova sabatina sanitária. A textura agora ao invés de complexa e suculenta é simplesmente gelatinosa. Beira o nojento, beira o mcnugget. Triste, simplesmente triste.

Os condimentos que antes eram apresentados em altos tubos para self service agora aparecem em sachezinhos, supõe-se que também para conservação, visto que também foram acusados nos exames. A cerveja continua razoavelmente gelada. A heineken é servida em copos para ale, e as demais são servidas em copos para weiss. Estranho.

É incrivelmente triste relatar isso. Era um lugar muito bom, embora eu torcesse muito o nariz para admitir isso. Agora o que eu recomendo é evitar voltar lá e tentar manter a lembrança do lugar que mereceu minha nota nove vírgula dois.

Nota final: 6,0 (se não fosse o ambiente agradável ficaria um pouco mais abaixo)

Pelo menos o risco à saúde deve ter diminuído. Uma grande idéia que começa a esmaecer por problemas de execução. Darei mais uma chance daqui uns 6 meses.