sábado, 10 de julho de 2010

Tchê Bauru

Antes de mais nada, eu quero anunciar o resultado final da inédita promoção de semana passada. Vencendo por UM VOTO de diferença, o grande campeão foi o X-Moita, a ser visitado durante a semana, seguido por Gélson (não ficou bem claro qual deles, computei todos os votos para o mesmo) e Van Gogh, que com certeza não deverá ficar de fora por muito tempo.

Vamos ao post de hoje.

Os leitores mais puristas como eu vão torcer o nariz pro nome do lugar. Este é um blog sobre Xis Portoalegrense, e não sobre bauru paulista. Mas acredito que foda-se, é só um nome e nunca vi ninguém comendo bauru lá. Na verdade, é muito raro ver alguém comendo lá. O lugar é mais frequentado por bebedores de cerveja (Polar, estimo, a R$ 4,00). Este fenômeno é claramente explanado pelo cardápio que denuncia os Xis entre R$ 9,00 (Xis-Salada) e R$ 11,50 (Calabresa, Bacon, Coração, etc.), preço, no mínimo, bem acima da média.

Ah, o serviço: O Tchê Bauru fica na esquina da Mariante com a Cabral, qualquer um que ande um pouco pela Goethe sabe onde fica.

Escolhi para ser o Xis mais caro que comi este ano o Xis-Bacon. que é um bom termômetro para se conhecer uma lancheria nova. Veja bom o leitor que o Tchê Bauru para mim não tem nada de novo, exceto que eu nunca comera Xis ali antes.

Estávamos eu e uma corja de vagabundos, que resolveram pedir uma porção grande de batatas fritas com queijo duplo por cima. A porção não era das maiores mas o queijo não era ralado como se vê normalmente, mas uma monstruosidade derretida muito interessante. As batatas eram visivelmente de estilo caseiro e estavam muito boas.

Meu xis demorou cerca de dez minutos para ficar pronto, Aterrisou e não mostrou nenhuma particularidade em sua superfície. Contrariando meu método usual, iniciei por cortar o xis diametralmente, para melhor visualizar seu conteúdo, sacando fotos que, para variar, não tenho saco nem cabo de upar àqui.

A visualização do xis em corte longitudinal comprovou a disposição (de baixo pra cima) pão, ervilha, hamburguer, bacon, milho, ovo, tomate, alface, maionese, pão. Como sabemos, o xis em sua fórmula incluía queijo, que foi indetectável.

As primeiras impressões são de desequilíbrio, o tomate é cortado em pedaços quiçá um pouco grandes demais, e nosso xis sofre do velho problema da má distribuição de maionese. Estes dois fatores foram cruciais para que a degustação inicial revelasse um sabor decepcionantemente adocicado. O dia que um vivente pedir um xis bacon esperando um sabor adocicado, nosso mundo estará acabado.

Avancei em direção ao centro do xis sem maiores dificuldades, começando a perceber paulatinamente os sabores das carnes. O hambúguer foi bem passado, na medida certa, e era muito gostoso, de sotaque caseiro com sal, cebola e pimenta-do-reino. Media cerca de meio centímetro de espessura, e era de bordas irregulares. Muito provável era de fabricação do próprio estabelecimento. Com certeza o ponto alto do xis.

O bacon foi apresentado em pedaços difíceis de nomear. Creio que eu poderia dizer "destroços". Parecia que se havia alimentado um pedaço grande de bacon a um daqueles trituradores de papel. Muito interessante, mas este fator fazia com que, onde havia pouco bacon, os pedaços pequenos demais acabavam por não fazer diferença no sabor final. Felizmente, conforme eu me aproximava do núcleo do xis, a quantidade amontoada de destroços de abdômen suíno aumentava significativamente.

A primeira metade foi devorada sem problemas, e a segunda me rendeu dois terços (o terceiro ficou pro Johnny).

Pontos altos: cerveja barata, bem localizado, bom de estacionar, funcionários simpáticos, pode fumar. Pontos fracos: O preço do xis, má distribuição de maionese, excesso de salada.

Nota final: 7,2

Essa nota, repito, é fazendo uma média entre o xis e o local. Não fosse um lugar tão legal, o xis talvez ficasse abaixo da média 7,0

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Apologia e Promoção

Galerinha da leitura, peço desculpas pela falta de atualização (já são quase seis meses). Mas prometo voltar à ativa.

Como recompensa, estou dando-vos a oportunidade de ESCOLHER qual será meu próximo post. Tem que ser Xis, já que meu último foi a exceção.

Eu sei, a chance de duas pessoas escolherem o mesmo lugar não é das maiores. Mas, se houver empate em votos, darei prioridade à ordem de envio.

Os votos devem ser enviados ao meu e-mail pessoal gfloco@gmail.com e só serão aceitos até 09/07/2010. Corram!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

*Especial Laricando Litoral Norte*

Sabe o que as pessoas do mundo fizeram em Fevereiro? Algumas pagaram uma nota pra sofrer fisicamente em alguma avenida vestidas com fantasias desconfortáveis, algumas pagaram uma nota para poder entrar em algum lugar e tentar transar com algum desconhecido, algumas pagaram uma nota pra tomar whisky brasileiro com energético durante uma semana e ver seu tico murchar, algumas gastaram uma nota organizando a quebra do recorde de "mais pessoas vestidas de Star Trek ao mesmo tempo" (em pleno dia dos namorados americano), e outras gastaram uma nota na locadora e na loja de conveniências.


Para o meu Fevereiro, meu segundo mês livre, optei por atividades muito mais variadas e, logicamente, frutíferas. Portanto, está aqui implícito que, ao passo que não atualizei este blog, ocupei meu tempo com o crescimento pessoal: trabalho duro, leitura, beberragem e, é claro, autoflagelação gastronômica através do excesso.


Minhas atividades de autoconhecimento e reflexão, contudo, embora dependessem muito do nível periguetístico portoalegrense, não se limitaram ao hedonismo anti-zen que propus no parágrafo anterior. Tanto que minha busca pelo Nirvana moderno não pôde limitar-se ao portinho.


No Domingo de carnaval deixei minha amada Porto Alegre, onde nasci, cresci, e hei de morrer (não sem antes morar na Jamaica ou coisa assim).


Ao aterrizar no Litoral Norte Sul-riograndense, meu estômago, obviamente, anseava por algo. Eu tinha uma sensação que todos os leitores que não forem eu mesmo relendo meus posts não têm como saber como é. Ao passar pelo famoso churrasquinho de Capão da Canoa ("como assim, 'famoso churrasquinho'? Capão tem mil churrasquinhos!" Calma, caro leitor, este ao qual me refiro é o na esquina da Paraguassú com a nãoseiqual, a rua da BRESOLIT e do MILLENIUM e do parque de diversões menos itinerante do mundo), achei que ali estivesse a solução. CONTUDO, meu cérebro indicou-me que não.


Capão da Canoa é uma cidade bastante efervescente no mês de Fevereiro. Entretanto, não há tantos lugares para os barbudos alternas. Por sorte, radicava-me no extremo Sul de Xan-Gri-Lá, um pago bem mais calmo e propício ao conforto.


O leitor agora pode estar reclamando que o Blog se chama "Laricando Porto Alegre" e que trata de Junk-Food e Porto Alegre, e que até agora não temos nenhum dos dois. Pois metade dessa insatisfação se tornará gozo neste próximo parágrafo...


...porque quando me sentei para começar a leitura, saboreando um Johnny Walker com Red Horse (pelos quais paguei baratíssimo), subitamente tive uma epifania, eu sabia do que precisava. Como eu fora sem meu leal fuscão, peguei o dindinho e rumei a Atlântida, mais precisamente ao centrinho, mais precisamente ao






Krep Do Kbça



Sou suspeito para falar deste estabelecimento. Como minha família teve, por muito tempo, uma casa em Atlântida, acabei freqüentando muito o chamado "centrinho" (Avenida Central, duas quadras da praia). E é no centrinho que, há onze anos, estabeleceu-se o Cabeça e seu estande de crepes suíços.


Para os direction-freaks, o Cabeça fica do lado da praça, quase diretamente à frente do Shopping de Carnes Manduca (adoro este nome), naquela parte do centrinho onde vemos vários quiosques padronizados, sendo o da extrema esquerda o Crepes Maquiné (que agora também vende tapioca e é o maior rival do Cabeça (não por qualidade, mas por (falta de) simpatia mesmo)), e o da extrema direita um quiosque que tem por característica variar de ano a ano, sendo que o mais duradouro ali foi uma venda de bijuterias e roupas femininas semi-hippie. O cabeça é o terceiro, da direita para a esquerda.


Sou cliente assíduo do Cabeça desde sua abertura, há onze anos. Nos últimos anos, após a venda de nossa casa de praia, passei a freqüentá-lo menos (nota: o Cabeça só abre na temporada de verão, e normalmente não abre na Páscoa). De uns sete anos pra cá, o Cabeça sempre faz questão de levantar um boato que abrirá em Porto Alegre, e sempre descobrimos nada sobre isso.


O Cabeça atende ele mesmo ou sua digníssima esposa, Sandra (que por mim é chamada Dona Cabeça, invariavelmente), e o simpático quiosque fica aberto a partir de mais ou menos 18h até de manhã. O cardápio não foge do tradicional de qualquer crepe gaúcho: entre as carnes, as mais populares são o bacon, o frango desfiado, o coração, o estrogonofe, a calabresa; e entre os vegetais normalmente aparecem o milho, o palmito, o alho e óleo. Os queijos são praticamente invariáveis: mussarela, catupiry, cheddar e uma mistura de quatro queijos (que na verdade é um queijo só - sabor quatro queijos). Vale notar aqui que o Cabeça dispõe de uma variedade de chocolates significantemente maior do que a média. PORÉM, meus anos de experiência em crepes do cabeça, além de me motivarem a, como homenagem, fazer aqui meu primeiro post Não-Xis, me renderam a honra de adicionar uma importante variante sigularíssima ao cardápio do Cabeça: o crepe do Floco.


Não se engane, leitor: o Cabeça não dispõe de um cardápio em papel, e mesmo se de um dispusesse, o crepe do Floco não figuraria entre suas opções. O crepe do Floco é semi-secreto, só quem sabe que ele existe pode chegar e pedí-lo. É claro, meus leitores todos agora o sabem, e peço que isso não seja motivo para aproveitar-se, de má índole, desta informação. Peçam o crepe do Floco com parcimônia, e não estranhem se forem interrogados sobre este que vos escreve, ou mesmo se receberem toneladas de informação gratuita sobre mim. Talvez até devam pagar mais caro, o que não é de reclamar-se, visto que o crepe do Floco é infinitamente superior a qualquer crepe do mundo, como veremos a seguir.


O Cabeça dispõe de quatro máquinas de crepe, cada uma capaz de fritar seis "cápsulas". Os crepes são categorizados no sentido de quantas cápsulas seus recheios ocupam: o simples, de uma cápsula, custa R$ 4,00, o duplo, R$ 5,00 e o triplo, único que deve ser pedido pelos leitores deste blog, is going to set you back seven brazilian dollars.


Se o leitor não está familiarizado com o crepe suíço, pode procurar no google. Entretanto, o que se vê no Google não é fiel ao crepe praticado aqui na baixada do Manduca. Mesmo em um crepe simples, onde o recheio ocupa somente uma cápsula, a massa espalha-se por, pelo menos, as duas cápsulas adjacentes, de maneira que qualquer crepe acaba ocupando uma máquina inteira, independentemente do seu tamanho.


Falando em massa, convém advertí-los, a massa do crepe do Cabeça é mais um diferencial em relação aos inúmeros crepes do nosso litoral: ela não contém sal e nem gordura. É claro, em um blog como este, podemos considerar tal característica como falta gravíssima, não fosse o resultado deliciosamente fofo que se forma: a massa se assemelha muito a um pão ou bolo, e não a uma panqueca, como os demais. Isto faz muita diferença.

"COMO ASIM N~ TEM GORDURA???:::" perguntará [sic] o leitor usual. Calma, respondo. O crepe do Floco é capaz de ultrapassar as barreiras das á-eme, éfe-eme e dos elevador. O recheio inconfundível que gloriosamente preenche esta iguaria singular da culinária gaúcha contemporânea é o que contribui para dar a este crepe o título glorioso de MELHOR CREPE DO MUNDO.

"TA FALA DUMA VES!!1" Ok, ok.

Todos os leitores sabem que os quiosques de crepe em geral permitem combinações de até três sabores, às vezes quatro, o que permite ao cliente, por exemplo, pedir "bacon e queijo nas pontas, chocolate branco e queijo no meio", ou "coração, cheddar e queijo". Saberão os leitores que comigo mantém relações pessoais, também, que o crepe do floco obviamente não toma conhecimento destes grilhões do comércio varejista, consistindo de mussarela, catupiry, cheddar, quatro queijos (o molho antes referido), calabresa, pimenta vermelha, queijo parmesão e orégano.

Creio que agora esteja claro o motivo de tanto alarde.

Vamos ao procedimento de nosso mestre, Cabeça, na feição de mais esta nossa aventura gastronômica.

A máquina de crepes (link com imagem no começo do post, caso alguém comece a ler meus posts no meio) está bem quente desde as 18h, e eu chego mais ou menos pelas 22h30. Dito isto, nosso mestre pincela com um misto inacreditável de gentileza e violência montantes de margarina na superfície escaldante de metal, moldada perfeitamente para acomodar o recheio. A esta altura já estão impregnados na chapa da máquina pedacinhos negros de comida que ficou por ali o dia inteiro, bem como os resquícios lípicos de todos os crepes anteriores. Primeiro, Cabeça deita, em cada cápsula, um paralelepipedo de mais ou menos 0,7cm x 0,7cm x 4cm feito de queijo mussarela. Sobre ele, derrama com sua bisnaga de saco jatos compridos de cerca de 1cm de espessura de cheddar, catupiry e "quatro-queijos" (de agora em diante essa é a denominação correta para a mistura referida), que às vezes chegam a fazer a volta. O resultado é alarmante aos olhos. Ao ver tal espetáculo temos a nítida impressão de que aquele monte de queijo cremoso vai se espalhar por tudo uma vez que a chapa superior descer sobre esta.

Eu e o Cabeça não somos homens de alarmar-se com pouco. Nosso mestre prossegue à aplicação da lingüíça calabresa. Ela é cortada em pequenos paralelepípedos de mais ou menos 0,4 x 0,4 x 1cm, e é da marca Majestade, como o bacon do Cabeça (fonte: straight from the horse's mouth). Creio que não preciso dissertar sobre a quantidade da carne. Sobre isto vai a pimenta vermelha (bastante), o orégano (também conhecido, após as duas da manhã, como "orégo") e, adição de 2010, o queijo parmesão ralado grosso.

Sobre isso o cabeça despeja jatos finos de massa, sem a intenção de cobrir completamente o recheio e também sem deixá-lo plenamente descoberto à queda iminente da chapa superior. O fechamento da máquina é mais uma das habilidades singulares do cabeça. Ao invés de fechá-la do modo convencional, nosso mestre desce-a devagarito, LARGANDO-A a menos de um milímetro de distância do recheio, gerando mínimo impacto e evitando o espalhamento dos ingredientes mais líquidos.

Contudo, não se pode afirmar que NÃO HÁ espalhamento (oxímoro duplo). Os queijos, bem como a massa, por sorte, acabam por escorrer PARA OS LADOS, e não para fora da máquina, gerando duas novas "orelhas", feitas só de queijo e condimentos. O crepe, então, passa muito tempo na máquina, e tem de ser virado (com extrema habilidade) por mais de uma vez, a fim de assegurar integridade estrutural no momento do consumo. Mais de uma vez, nos tempos antigos, ajudei o Cabeça a aperfeiçoar suas técnicas de engenharia, e inclusive mais de uma vez meio que me queimei porque meu crepe se desbeiçou tanto.

Podemos dizer que, se alguém não inventou coisas assim na suíça, o Cabeça talvez seja um pioneiro numa arte ainda por nascer: o crepe monstro. De maneira alguma o crepe que o Cabeça sempre faz pra mim pode se assemelhar ao que se chama por aqui "crepe suíço". A massa é, em praticamente todos os pontos do crepe, permeada por catupiry, cheddar, "quatro-queijos", mussarela, pimenta e orégano, e inclusive, em alguns pontos das orelhas que cercam nosso triplo, podemos encontrar pedaços semi-carbonizados de calabresa. É lindo. É maravilhoso. É apoteótico. É quase inacreditável.

A temperatura, no início, beira o intolerável. O sabor é indescritível. A complexidade é definitivamente uma marca expressiva, bem como a heterogeneidade. Os diferentes queijos se espalham para diferentes áreas, gerando combinações cada vez mais complexas, sempre trespassadas por uma leve ardência da pimenta, e o aroma pizzesco do orégano, inconfundível. As orelhas oferecem ótimo contraponto às cápsulas, oferecendo diversas opções nas mordidas, nas quais podemos variar a proporção carne-queijo conforme a localização no crepe.

Quem nunca comeu um crepe suíço gaúcho talvez não deva começar por aqui. Quem já comeu com certeza tem que passar por esse lugar, pelo menos para rever seu conceito de crepe.

Nota Final: 10,0

Pontos massa: Um crepe monstro; muitos queijos; atendimento espetacular; bebida gelada; ceva latão a R$ 3,50; o melhor crepe do mundo; permitido fumar; bons lugares pra sentar (o centrinho inteiro). Pontos palha: não consigo pensar em nenhum.

Amanhã volto, com a segunda parte do especial Litoral Norte.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Casa do Gélson

Não quero que o leitor se confunda, não estou falando do Gélson Lanches. O fato é que o Gélson tornou-se lenda urbana das chapas da Zona Sul portoalegrense, e por isso deixou sua marca registrada (o que refiro como Xis-Calota) em diversos lugares da Zona Sul. Na verdade, o Gélson Lanches já referido em dois posts anteriores não possui em seu elenco nenhum Gélson. O verdadeiro está neste novo estabelecimento, a Casa do Gélson.


Fica na Otto Niemeyer, bem na frente do Armelin, e o número é 32661300. Se o leitor não sabe onde fica o Armelin da Otto, faça o favor de retornar a Cachoeirinha, que é o seu devido lugar.


Claramente se tratava de uma casa antes de se tornar mais um templo do hedonismo estomacal gaúcho-contemporâneo: na antiga varanda cabem umas 7 ou 8 mesas e o espaço é coberto. Infelizmente os fumantes estão restritos a este ambiente, que felizmente é o mais agradável. Também há um ambiente alternativo ao interior, que é a antiga garagem da casa, muito curioso mas parece um pouco apertado. O ambiente interno propriamente dito tem uma janela imensa que dá a visão para *suspiro* as chapas.


O lugar pode ser facilmente identificado de longe pelo luminoso redondo verde e laranja (cores que permeiam todo o recinto) com os dizeres "Casa do Gélson" e um imenso capacete com chifres. Os chifres, na verdade, são a temática ideológica do estabelecimento, visto que todos os garçons e chapistas usam camisetas estampadas com "Sou (chifres) e sou feliz". Não sei qual é a anedota cérica, mas aparentemente o Gélson, além de fazer um xis foderoso, também curte ser corno.


Quem me acompanhava era meu aluno mais parceria e também o que atira melhor: o Charles. Tivemos que fumar dois cigarros esperando uma mesa na rua liberar (para que assim pudéssemos fumar mais cinco). Quando sentamos, pedimos aquela Bohemia, que estava bem gelada mas não a ponto de me fazer querer tuitar sobre isso (@Floc0, se estiverem curiosos).


A dúvida acerca do cardápio era iminente. Não existem muitas diferenças entre este e o do Gélson Lanches, apenas alguns tweaks muito bem-vindos: existe aqui a opção do Top Gélson de Filé, e também aparecem, em página separada, os petiscos: basicamente porções de batata frita com diferentes carnes acompanhando (calabresa, filé, camarão, bacon, etc.).


Eu estava nas pilhas do Filé ao Molho Branco, para fazer uma comparação precisa entre a Casa do Gélson e o Gélson Lanches, mas o Charles não curte molho branco, e inclusive aproveitou a oportunidade para me perguntar do que era feito o molho branco (Respondi: Leite. Com farinha.). Titubeamos um pouco acerca do Strogonoff, mas acabamos por pedir meio Xis-Filé aos Quatro Queijos. Convém aqui denotar que a Casa do Gélson é significantemente mais cara do que o Gélson Lanches. Os xis mais fodidões saem por R$ 42,00 o inteiro, enquanto no Gelson Lanches, se não me engano, saem por R$ 34,00. A diferença não é tanta, visto que um xis inteiro serve quatro pessoas, pra mais.


Outro ponto interessantíssimo sobre o cardápio é a indicação do peso das coisas: no Strogonoff se lê: 1kg de iscas de carne ao molho de strogonoff, etc. E no Xis-Bacon (curiosamente batizado X-Carne com Bacon) indica-se 500g de carne moída e 500g de Bacon. As críticas ao cardápio permanecem as mesmas: presença de catchup e mostarda padrão dentro do xis (SEMPRE tenho que pedir sem), e talvez eu possa condenar o excesso de coisas desnecessárias (como, por exemplo, cebola e salsa).


Daí veio nosso Xis-Filé aos Quatro Queijos. Tirei uma foto mas estou sem saco pra upar. Tirei-a não pra postar aqui, mas porque o bagulho era monstro mesmo. O xis era de forma triangular, visto que era apenas um quarto de um xis do tamanho aproximado de uma pizza. O que mais chamava a atenção era o recheio que escorreu das bordas: por um lado do xis escorria um creme laranja-avermelhado, por outro escorria um creme mais claro, e por outro saltava um pedaço de ovo frito. Apoteótico é pouco, pena que eu não sou tão fã assim de queijo, como já dito no meu post inicial.


Comecei por extrair uma amostra do xis propriamente dito e mergulhá-la, primeiramente, na parte alaranjada que parecia ser do tomate. Era cheddar. Daqueles que vem em bisnaga e se coloca nos crepes suíços da praia. Não aprovei nem condenei. A parte esbranquiçada parecia ser catupiry, mas o gosto era de provolone com provolone. A parte do ovo frito tinha gosto de xis tradicional, com filé.

O xis tem mais ou menos uns cinco maços de Marlboro de superfície, sem contar com o molho. Ocupa o prato inteiro. O filé vem em iscas de bom tamanho, não é necessário cortá-las, e inclusive pode-se comer pedaços com uma ou duas iscas (esta é uma grande vantagem em comparação direta com o outro xis-calota deste blog, o Gélson Lanches, cujas iscas são grandes demais).

Um dos grandes problemas deste xis, e de quase todos os outros quatro queijos do meu portinho, é a desproporção no uso de variedades muito características e outros queijos mais suaves; neste caso o provolone foi o vilão, roubando a cena sempre que estavam presentes. A má distribuição do molho também é fator: o que eu senti foi que a grande maioria do molho deslocou-se para fora do xis, então um bom método de degustação é cortar um pedaço do xis e mergulhá-lo no molho perimetral, o que não é nada ruim. Outro ponto que alguns podem considerar negativo tange o mesmo assunto da distribuição do queijo: em alguns pontos o sabor era predominantemente provolonístico, em outros de cheddar. É claro que nenhum dos outros dois queijos teve alguma chance de ser encontrado ou reconhecido.

Quanto aos demais ingredientes, os únicos realmente perceptíveis foram justamente os extras: a salsa e a cebola (crua). A salsa fazia presença visual e na textura, e a cebola, é claro, com seu sabor e textura peculiares sempre era reconhecida quando aparecia em algum pedaço. Quero ressaltar que nenhum dos ingredientes superficiais (tomate, cebola, milho, ervilha, cebola e salsa) apareceu estavelmente por todo o xis, mas sim esporadicamente, a ponto de muitas vezes nem ser percebidos (abaixo o infinitivo pessoal).

Com certeza a Casa do Gélson oferece xis muito superiores e mais bem-construídos do que este, portanto devo voltar lá nas próximas semanas e pedir o que me der na telha (Bacon, Strogonoff, ou Filé ao Molho Branco, talvez Calabresa ou Frango Catupiry). No mais, a Casa do Gélson é definitivamente um dos melhores lugares na Zona Sul pra tomar uma gelada curtindo um clima sem frescura e com um pessoal simpátivo (inclusive o próprio Gélson veio dar um lero com a gente, depois da janta, e circulava fazendo comentários semi-humorísticos das situações, tipo "olha as mina encarando meio estrogonofe!"). Pontos massa: Xis gigantesco e claramente intimidante, muitas opções no cardápio (tradicionais e exóticas), ótimo ambiente, estacionamento suficiente na rua. Pontos palha: má distribuição de queijos (devo culpar a mim e ao Charles por ter pedido este xis, e não outro, visto que sou abertamente contra os quatro queijos - vide o primeiro post deste blog), falta estacionamento próprio, fumo restrito à varanda.

Nota final: 8,8

E, caso estejam se perguntando, consegui comer o meu quarto inteiro, e o Charles arregou em dois terços.