sexta-feira, 10 de julho de 2009

X do Gélson

Passei muito tempo de minha vida sem frequentar a zona Sul de Porto Alegre. Meu tempo de gostar de passear de carro sem dirigí-lo foi breve, e eu era muito pequeno. Com o tempo, inevitavelmente passei a visitar este lado da cidade esporadicamente. Hoje trabalho aqui, e posso experimentar um tipo de junk food que é mais raro de encontrar em outros cantos do portinho.

Na região da zona Sul onde trabalho, há três xis dos quais ouço falar mais freqüentemente: o Willy, o Gélson e o Coqueiro. Estes dois últimos têm algum tipo de relação entre si - ex-sócios, ex-donos, ex-chapistas, cornos e etc., não sei precisar, e este não é o meu assunto. O Gélson e o Coqueiro também compartilham o hábito de servir xis que alimentam 4 pessoas, às vezes conhecidos como x-calota, por causa do tamanho, ou, como definiu minha amiga Kei, x-pizza-a-metro.

Este fato, por si só, já é digno de folclore. Qualquer amante da má comida adora ver, disposto na mesa do bar, quase um metro quadrado de porcaria frita na chapa. Entretanto, aparentemente, para esses caras isto não é o suficiente. Eu vou tentar contar, deixando mais particularidades para o final, que pode (ou não) ser surpreendente.

O X do Gélson fica dentro do Piscina Clube Tristezense. Se o leitor não conseguiu concluir que isto fica no bairro Tristeza, está convidado a matar-se rápida e indolorosamente. Sabendo onde fica o McDonald's da Wenceslau Escobar, fica fácil encontrá-lo, é na rua Doutor Armando Barbedo. Qualquer questão mais precisa pode ser resolvida em http://www.lmgtfy.com/?q=x+g%C3%A9lson+porto+alegre . Tem estacionamento do próprio clube que não precisa pagar. E reza a lenda que quem come um xis inteiro não precisa pagar o segundo.

O ambiente é, no mínimo, diferenciado. A lanchonete fica do lado de uma quadra de futebol de salão, e se pode escutar os alaridos viris dos banhudos suados pulando sobre as tábuas. Isto é bastante confortante, para os habituados a este tipo de ambiente. Mesmo assim, não deixa de ser um bom lugar para levar as minas, visto que não é muito sujo nem barulhento. Digo isto tendo em mente que o meu leitor tenha o cuidado de escolher uma boa namorada, que o acompanhe neste tipo de empreitada quase canibalesca. Acho que a minha parceira gostou bastante do lugar. Para ela o único problema foi que a cerveja era Bohemia. Não sei o que ela viu de errado nesta cerveja.

Aliás, um dos pontos fortes do bar: A Heineken está em promoção por R$4,00.

Então tu chega, senta e pede a bira. Olha o cardápio. Tem uma lista de xis, uma de biras e uma de alaminutas. Meio xis custa de 10,00 (x-carne) a 17,00 (strogonoff, quatro queijos, filé ao molho branco, top gélson). Um inteiro custa de 20 a 34. Estávamos em cinco pessoas: eu, a alemoa (e aqui é a primeira vez que lhe ponho um nome neste blog), o beisso, meu chefe e sua esposa (ou, melhor, minha chefe e seu marido). Isto gerou certa discussão: o xis fora concebido para quatro pessoas - então o que seria melhor: um xis inteiro ou um e meio? Se a resposta a esta pergunta não for óbvia ao leitor, ele fatalmente está fadado ao mesmo destino dos que não entenderam que o Clube Tristezense fica na Tristeza. E dos vegetarianos.

Meus chefes pediram meio X Top Gélson. Os ingredientes que o diferenciam dos demais xis do cardápio são filé, bacon, palmito e azeitona. Eu, a alemoa e o beisso pedimos um X Strogonoff. Ele também vem com batata palha, mas não tem champignon. Um dos problemas de cardápio se revela neste momento: todos os xis têm, por ingredientes standard, alguns itens desnecessários: catchup e mostarda DENTRO DO XIS (por padrão, algo contra o qual já discursei em meu post introdutório http://gfloco.blogspot.com/2007/07/guizas-de-introduo-sem-cebola.html ) e cebola (crua). Tive que restringir um pouco meu pedido, sem catchup e mostarda, sem cebola e sem ervilha (por causa da alemoa).

O X Top Gélson chegou primeiro. Como era só meio xis, não dá pra ter noção do quão sem-noção a coisa pode chegar a ser. Era um pão de xis comprido e retangular, mais ou menos da forma de dois xis lado-a-lado. O Xis já é servido repartido, neste caso em dois. Meu chefe diz que come meio xis inteiro (com o perdão do oxímoro).

Observando o xis, ele parecia bem saboroso. O recheio claramente predominava, e o pão ficava bem fininho, provavelmente pela ação da prensa. Outro ponto positivo: o pão, por fora, é de uma cor marrom-alaranjada muito bonita, e é servido lustroso, sujo de sujeira de chapa, um primor. O xis é servido no prato à maneira tradicional portoalegrense: com os talheres cravados em cima. Este procedimento, embora inferior ao polegar opositor, saquinho e guardanapo, tem de ser adotado neste caso, como o leitor verá mais adiante.

Agora, o cheiro denuncia certo movimento alarmista na cozinha, cheiro de molho branco e carne, a garçonete atravessa o balcão, recolhe o que deve recolher e vem em nossa direção, trazendo três pratos e uma agradável surpresa: um marmitex com o quarto do xis que, provavelmente, sobrará.

Ao ver os pratos vindo, já se pode notar algo intrigante, não há um xis, mas sim alguma coisa que ocupa toda a superfície do prato e se acumula a uma altura de mais ou menos 6 centímetros. Aquela abundância toda, então, aterriza em sua frente, e se pode notar: é um monte de strogonoff com batata palha por cima.

Caso o leitor seja um completo cuzão, eu vou explicar o que é strogonoff: um prato, normalmente servido com arroz e batata palha, que consiste de carne (normalmente filé), champignon, molho de tomate e molho branco, tudo misturado.

E, justamente aí, pisa o pulo do gato. O xis aterriza e se começa a perscrutá-lo com os talheres, para descobrir-se que se trata, na verdade, de um xis completamente coberto com strogonoff, de pedaços graúdos de carne e batata palha. Mais um fato digno de folclore.

No começo, comi alguns nacos de carne, que de tão grandes às vezes tiveram que ser cortados ao meio, e pescados com a batata palha. Um dos problema mais evidentes é que se trata claramente de um strogonoff congelado e descongelado, visto que o molho é levemente nodoso e talhado, qualidades essas que apresentaram variabilidade gradual em minhas visitas. Isto não atrapalha tanto.

Sei bem, o leitor está curioso sobre o xis propriamente dito, que subjaz o strogonoff com batata palha. Trata-se, sim, de um xis "sem recheio": alface, tomate, maionese, milho, ervilha, cebola, catchup, mostarda (embora eu não possa discorrer sobre esses quatro últimos itens) e, mais uma agradável surpresa: um creme branco que lembrava muito nosso amado catupiry. Tanto o xis quanto seu recheio/cobertura são muito saborosos, sem serem muito fortes (sobre este ponto do xis ser "forte", minha chefe discorreu sobre o Top Gélson, dizendo que esse sim era forte, com um sabor azedo (proveniente, supõe-se, da azeitona e palmito), e que o filé era muito bom, isto disto por ela que normalmente pede x-bacon sem carne).

O alface é em tirinhas e o tomate em cubinhos, o alface está presente em toda a superfície e o tomate se restringe a um cubinho por "mordida", muito boa dosagem. A maionese é discretíssima, deve aparecer mais nos xis sem molho. O "catupiry", ao cortar-se o xis, escorria para fora e mesclava-se, lenta e hetereogeneamente, ao molho do strogonoff. Apoteótico. O strogonoff denunciou, por vezes, cebola mal frita e demasiado crocante e saborosa, roubando um pouco a cena da carne e deixando aquele bafo chato, sem contar o retrogosto de CO2.

Principais problemas: a garçonete não sabia de cor que cervejas o bar tinha, o strogonoff é meio mal-aquecido ou mal-descongelado, tem catchup e mostarda dentro do xis por padrão, cebola crua. Principais coisas massa: Arregado pra caralho, monstruoso e intimidante, bastante carne, um xis bem diferenciado, ceva gelada, bom ambiente onde se pode fumar à vontade.

Se o leitor é da zona Sul, com certeza conhece esse lugar. Se não, vale a pena conhecê-lo, é um ambiente bem familiar e descontraído, a comida é muito boa e com certeza vale seu preço (pedindo meio xis-salada para duas pessoas, os dois comem bem e se gasta, ao todo, dez reais).

Nota final: 9,2

6 comentários:

Pedro Henrique Reis disse...

Eu não como carne e fico ofendissimo com esse blog que incita a morte das pobres vaquinhas.

Você fala da carne dos animais como se eles fossem coisas que pudessemos usar ao nosso bel prazer. ISSO É OFENSIVO E TERRÍVEL.

Dear Lê disse...

Bah, não acredito que tinha catchup e mostarda dentro. Mas o X Top Gélson, meu deus, que fome fiquei, sério! parece ser muito bom!
chorei rindo do comentário acima.

Débora Caetano disse...

mas bah eu amo cebola crua no xis (certo que era por isso que tu não queria comentários)

Curso Arquimedes disse...

Sou da Zona Sul :) e esse Gélson é ótimo para ser apreciado "ao vivo e a cores"...pedir por tele-entrega é uma fria...o X chega num estado lamentável!

Moises disse...

tadjinha das alfassem jent noa coemn elax



X Gelson é o X, especialmente se tu tens a sorte de o próprio ser vivo que dá nome ao estabelecimento ser o chapista (o que geralmente ocorre nas madrugadas dos finais de semana).
Filé Mignon ao molho branco é meu favorito.

Anônimo disse...

molto intiresno, grazie